Caríssimos irmãos e irmãs, tempos atrás, o Papa Bento XVI inaugurava o Ano Sacerdotal, ressaltando a figura de São João Maria Vianney, Santo Patrono de todos os Párocos do mundo. A intenção do Papa foi a de fomentar a renovação interior de todos os sacerdotes para um testemunho evangélico mais vigoroso e incisivo.
Podemos seguramente tomar esta intenção do Papa para todas as vocações. Falar de Vocações hoje é sempre propício, pois Deus, desde a criação do mundo chama e convoca para si pessoas para que sejam colaboradoras e instrumento de sua vontade. É assim que Deus pensa em nós. Tomos somos chamados por Deus. Sobre isto é que agora vamos refletir.
João Paulo II dirigindo algumas palavras sobre o tema vocação, assim se expressou: “antes da criação do mundo, antes do nosso existir, o Pai celeste escolheu-nos pessoalmente e nos chamou para estar em relação filial com ele, por intermédio de Jesus, Verbo encarnado, sob a luz do Espírito Santo."
E foi o próprio Jesus que nos introduziu neste mistério do amor totalmente envolvente do Pai. A primeira criação, ferida pelo pecado, é resgata por Cristo, por meio de seu sangue derramado na Cruz. Somos Nele novas criaturas, nova criação. E é nesta certeza que temos que nos esforçar por sermos santos. Esta é a nossa primeira vocação: “Sede santos, como vosso Pai do Céu é santo”. Vocação esta que está intimamente ligada a nossa adoção filial por parte de Deus. Sem este norte em nossas vidas, qualquer escolha que fizermos e que determinará nossas vidas, ficará sem sentido. Tudo o que fizermos deverá contribuir para a nossa santificação e as dos outros. Quer assumindo uma vocação de especial consagração na vida da Igreja, quer sendo presença dela no mundo nas variedades das profições, é à santidade que somos chamados.
Tudo isso, na verdade é um dom que confunde qualquer idéia e projeto exclusivamente humano. A confissão da verdadeira fé abre as mentes e os corações ao inesgotável mistério de Deus, que permeia a existência humana. A existência humana está totalmente dependente de Deus. E o grande perigo que encontramos hoje é fingir que Deus não existe e que sua santa vontada não incide sobre nós. Isso é tentar contra Deus. É um verdadeiro engano. Quem quer caminhar na vida longe de Deus, não viverá a vida, mas passará pela vida, sem compreender o quão grande é o amor de Deus por nós.
Para responder ao chamado de Deus, e ajudá-lo a construir o Reino, não é necessário ser perfeito. Basta lembrar que foi a consciência do próprio pecado que permitiu ao filho pródigo retomar o caminho e experimentar a alegria da reconciliação com o Pai. É preciso abrir o coração e deixar-se envolver pela graça de Deus que exigirá de nossa parte uma constante conversão. Ele mesmo foi ao encontro dos doze discípulos para que fossem intímos colaboradores de sua missão. Olhou a cada coração e apostou em suas qualidades. Formando uma comunidade, os discípulos foram educados no amor pelo seu Mestre para que pudessem, depois de sua Acensão e na força do Espírito, cumprir seu mandato de a todos fazer filhos de Deus, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
No mistério da Igreja, Corpo místico de Cristo, o poder divino do amor transforma o coração do ser humano, tornando-o capaz de comunicar o amor de Deus aos irmãos. Já na beira do mar da Galiléia, muitos se deixaram conquistar por Jesus: estavam procurando a cura do corpo ou do espírito e foram tocados pela potência de sua graça. Outros foram escolhidos pessoalmente por ele e se tornaram seus apóstolos. Encontramos também pessoas, como Maria Madalena e outras mulheres, que o seguiram por iniciativa própria, simplesmente por amor. Estes homens e estas mulheres, que conheceram por intermédio de Jesus o mistério do amor do Pai, representam as múltiplas vocações sempre presentes na Igreja. Um modelo de chamado a testemunhar de maneira particular o amor de Deus é Maria, a Mãe de Jesus, diretamente associada, em sua peregrinação de fé, ao mistério da Encarnação e da Redenção.
O Concílio Vaticano II colocou em evidência o universal chamado à santidade, afirmando que "os seguidores de Cristo são chamados por Deus não por suas obras, mas segundo seu desígnio e sua graça. Eles são justificados no Senhor Jesus porquanto pelo batismo da fé se tornaram verdadeiramente filhos de Deus e participantes da natureza divina e, portanto, realmente santos" (Lumen Gentium, 40).
Na dinâmica deste chamado universal, Cristo, Sumo Sacerdote, em seu zelo pela Igreja, chama, pois, em cada geração, pessoas que cuidem de seu povo; em particular, chama ao ministério sacerdotal homens que exercitem uma função paterna, originária da própria paternidade de Deus (cf. Ef 3,14).
A Exortação Apostólica "Pastores dabo vobis", em seu número 16, afirma: "O relacionamento do sacerdote com Jesus Cristo e nele com a sua Igreja, situa-se no próprio ser do presbítero, em virtude da sua consagração/unção sacramental, e no seu agir, isto é, na sua missão ou ministério. Em particular, o sacerdote ministro é servo de Cristo presente na Igreja mistério, comunhão e missão".
E continua: "Pelo fato de participar da unção e da missão de Cristo, ele pode prolongar na Igreja a sua oração, a sua palavra, o seu sacrifício e a sua ação salvífica. É, portanto, servidor da Igreja mistério porque atua os sinais eclesiais e sacramentais da presença de Cristo ressuscitado".
Uma outra vocação especial, que ocupa lugar de honra na Igreja, é o chamado à vida consagrada. Sob o exemplo de Maria de Betânia, que, "sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra" (Lc 10,39), muitos homens e mulheres se consagram a um seguimento total e exclusivo de Cristo.
Estes, mesmo desenvolvendo diversos serviços no campo da formação humana, no ensino ou na assistência aos doentes, não consideram estas atividades como o objetivo principal de suas vidas, porque, como bem destaca o Código de Direito Canônico, "a contemplação das coisas divinas e a união com Deus pela oração assídua seja o primeiro e principal dever de todos os religiosos" (Cân. 663 §1). E na Exortação Apostólica "Vida Consagrada", João Paulo II anotava: "Na tradição da Igreja, a profissão religiosa é considerada como um singular e fecundo aprofundamento da consagração batismal, visto que nela a união íntima com Cristo, já inaugurada no Batismo, evolui para o dom de uma conformação expressa e realizada, mais perfeitamente, através da profissão dos conselhos evangélicos" (n. 30).
Outros são chamados a viver a união entre homem e mulher pelo sacramento do matrimônio. É preciso enfatizar que os casados também são consagrados ao Senhor. São chamados a serem colaboradores do Senhor, sobretudo no que se refere à geração dos filhos. Constituem uma família, célula viva e vital para a Igreja. Assumindo esta vocação, estão imersos nos fazeres civis, nos trabalhos temporais, e nestes trabalhos, sejam quais for, desde o médico, ao padeiro, do professor ao gari, devem dar testemunho fiel de seu amor a Cristo e à Igreja.
Por fim toda vocação deve perseguir a união com Cristo e a abertura ao mistério da graça que opera no coração dos que crêem. Desta forma, todos são chamados a "cultivar uma íntima relação com Cristo, Mestre e Pastor de seu povo, imitando Maria, que guardava com ânimo os divinos mistérios e os meditava assiduamente (cf. Lc 2,20)". A segurança de nossa felicidade está em cumprir a vontade de Deus.
Fonte:
Foto disponível em: jesuscristoanunciandoaboanova.blogspot.com Acesso em
Este texto teve como base o Suplemento da Revista Rogate – Revista Vocacional n° 241)