Reminiscências do Ano Sacerdotal
Durante o ano de 2009 o Papa Bento XVI, por ocasião do 150º aniversário natalício de São João Maria Vianney, Patrono dos párocos, proclamou solenemente um ano Sacerdotal (2009-2010). “O sacerdócio é o amor do coração de Jesus”, disse o Papa recordando as palavras do Santo Cura D’Ars, colocando-o como referência deste Ano e, exemplo, não só dos párocos mas de todos os sacerdotes do mundo.
Em sua Carta de abertura do Ano Sacerdotal, cita a grandeza do sacerdócio na visão do Santo patrono: “Oh como é grande o padre! (…) Se lhe fosse dado compreender-se a si mesmo, morreria. (…) Deus obedece-lhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz, Nosso Senhor desce do céu e encerra-se numa pequena hóstia”. E ao explicar aos seus fiéis a importância dos sacramentos, dizia: “Sem o sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem O colocou ali naquele sacrário? O sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso na vida? O sacerdote. Quem a alimenta para lhe dar a força de realizar a sua peregrinação? O sacerdote. Quem o há de preparar para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no sangue de Jesus Cristo? O sacerdote, sempre o sacerdote. E se esta alma chega a morrer [pelo pecado], quem a ressuscitará, quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o sacerdote. (…) Depois de Deus, o sacerdote é tudo”!(...)
Com profunda convicção, o Papa recorda-nos trechos da vida deste Santo, sobretudo dos momentos em que servia a Deus em seus paroquianos, na pequena Ars, aldeia incrédula e tão distante de Deus. Soube insistentemente mostrar a Pessoa do próprio Cristo, sobretudo em muitas horas que atendia a confissão, no carinho com que tratava os doentes ao visitá-los, pelo zelo com que ensinava as verdades da fé às crianças que se preparavam para a Primeira Eucaristia, na piedade e temor com que celebrava a Santa Missa, oferecendo-se em sacrifício pela salvação de seus fiéis: “Como faz bem um padre oferecer-se em sacrifício a Deus todas as manhãs”! Organizava missões, arrecadava fundos para suas obras caritativas, embelezava a sua Igreja e dotava-a de alfaias sagradas. Sobretudo, ensinava a seus paroquianos o amor e o respeito por Jesus na Eucaristia, despertava com seu exemplo o gosto pela oração, pelo jejum e pelas práticas devocionais como o Rosário. Fiel devoto da Santíssima Virgem soube muitas vezes recorrer a sua Imaculada intercessão para conduzir e educar o seu povo, para permanecer fiel em meio aos devaneios de Ars.
Também nos recorda a magnífica Carta Encíclica Sacerdotii nostri primordia, publicada em 1959 pelo Saudoso Papa João XXIII no centenário da morte do Cura D’Ars, em que cita os três conselhos evangélicos: Pobreza, Obediência e Castidade, presentes na vida do Cura D’Ars. Viveu ele, segundo suas condições de Presbítero a pobreza, quando sabia arrecadar os donativos e do mesmo modo, dá-los aos seus pobres, as famílias necessitadas, e as suas obras sócio-caritativas, sendo desapegado para si e interessado pelos outros. Viveu a castidade, como se requeria a um sacerdote, pelo seu exemplo a ações do dia-a-dia. Seus fiéis percebiam seu olhar casto, e ao mesmo tempo sua paixão por Cristo e por sua Igreja. Também viveu a obediência, quando aceitou o encargo de guiar Ars, e obediente, fazia o máximo para isto.
Não demorou muito para a fama do “Santo Cura de Ars se espalhar por toda a França. Ars se tornou como muitos diziam “Um hospital de almas”. “A graça que ele obtinha, [diz o Papa], era tão forte que iam a sua procura sem lhes deixar um momento de trégua”! Acrescenta ainda a humildade com que instruía e a força com que se deixava conduzir. E é esta força que deve ser a torrente que conduz o múnus sacerdotal de cada sacerdote “Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina”. Ele deve ser mediador, ser a ponte que conduz o homem a Deus, à sua redenção. “Com a Palavra e os Sacramentos do seu Jesus, João Maria Vianney sabia instruir o seu povo, ainda que frequentemente suspirasse convencido da sua pessoal inaptidão a ponto de ter desejado diversas vezes subtrair-se às responsabilidades do ministério paroquial de que se sentia indigno, mas com exemplar obediência, ficou sempre no seu lugar, porque o consumia a paixão apostólica pela salvação das almas”.
O Ano Sacerdotal proporcionou a toda a Igreja, inspirada pela vida do Cura D’Ars e guiada pela ação do Espírito Santo uma maior edificação de sua vocação, como povo profético e sacerdotal. Deixemo-nos levar pela Voz de Cristo, Bom Pastor para que sejamos realmente, e coerentemente, verdadeiros construtores do Reino do Senhor.