31 de mar. de 2011

Formação

O ministério, caminho de santificação - parte 2
 Por Cadeal Piacenza.

À luz do que acabo de expor, compreendemos, portanto, como o ministério deve ser apresentado, acolhido e vivido. O Santo Padre Bento XVI, mais de uma vez, e de forma muito clara, por exemplo na Deus caritas est, reiterou a urgência de que seja superada qualquer redução funcionalista e ativista da ação eclesial e, em especial, do ministério sacerdotal.
A especificidade da vocação sacerdotal, essencial e insubstituível na vida e na própria identidade da Igreja – e é preciso que digamos isto, diante de não poucos atentados à identidade e, por conseguinte, ao ministério pastoral dos presbíteros –, postula como conseqüência lógica a especificidade do caminho de santificação que, mediante o exercício do ministério, cada sacerdote é chamado a realizar.
Também nesse sentido, voltamos a descobrir a centralidade da Eucaristia: fonte e ápice de todo o ministério sacerdotal, ela é também centro propulsor da vida moral e da santificação do clero.
Celebremo-la com a surpresa grata de uma criança, com a consciência profunda de um místico, com a preparação cuidadosa de um apaixonado, no silêncio orante de quem tem consciência de se encontrar a serviço de Deus, desejando quase desaparecer, “diminuir para que Ele cresça” (cf. Jo 3,30).
Que o ministério, portanto, não seja distinto da vida do sacerdote, o qual, em qualquer atividade que realiza, deve manter sempre um estilo sacerdotal, como se estivesse sempre no estrado do altar: no trato humano, na linguagem, nos próprios hábitos, que expressam uma maneira de pensar e de agir específicos, ao agir constantemente segundo os critérios do Bom Pastor, que oferece a si mesmo pelas ovelhas, que nunca é um mero administrador ou, pior, um mercenário, que é capaz de atrair as ovelhas para o aprisco da santa Igreja.
Um trato humano como esse não nasce de um esforço improvisado, mas da consciência, devidamente educada, de ser, por pura graça e misericórdia divina, um alter Christus que caminha pelas estradas do mundo.
Esse é o sacerdote e essa é a verdadeira pastoralidade!
Trata-se de não ceder às modas e aos gostos do tempo e dos homens, de não segui-los até mesmo no pecado, pessoal e social, mas de cuidar das ovelhas, com particular atenção às que estão dispersas e doentes, partindo do desejo ardente de que todos conheçam a Cristo, único verdadeiro Salvador da história do homem, e de que, ao mesmo tempo, as fronteiras visíveis da Igreja se dilatem até os extremos confins do mundo.
Todos os homens estão “destinados a fazer parte do aprisco de Cristo”. O sacerdote se torna santo quando age nessa direção, vivendo, sofrendo e se oferecendo para que todos aqueles que lhe são confiados e que encontra, por meio de seu ministério e de seu trato humano, possam fazer uma verdadeira experiência de Cristo.
Um sacerdote como esse não se pode refugiar na solidão ou no isolamento, não pode pensar que atingir a idade canônica da aposentadoria signifique deixar de operar pelo bem das almas.
O sacerdócio, mesmo do ponto de vista sacramental, modifica ontologicamente a identidade de quem o recebeu. Portanto, a pessoa é sempre sacerdote, até mesmo depois da morte!
Nenhum ministério, nem o mais teologicamente qualificado, admitido que se trate de sã teologia, poderá substituir o do sacerdote.
Eduquemos a essa consciência! Renovemos nosso pertencer a Cristo e o amor incansável pela Eucaristia, que nos foi doada a graça de celebrar.
Amemos o confessionário, como lugar, como serviço, como identificação a Cristo misericordioso, doador do amor trinitário.
Que Bem-aventurada Virgem Maria, mãe dos sacerdotes, proteja nosso caminho de santificação, reforce nossa consciência de sermos outros filhos seus e, com sua onipotência suplicante, doe à Igreja uma nova grande estação de florescimento vocacional e de sacerdotes santos.
Parece-me que o céu, nesse sentido, começa a despontar.





                                                                                               Confessionário do Cura D'Ars

26 de mar. de 2011

Jovens do Propedêutico completam um mês de Curso

Douglas, César, Felipe e André, completaram um mês de Curso Propedêutico

Douglas, César, André e Felipe, completaram um mês de Curso Propedêutico. Sob direção do Pe. Anderson Frezzato, o Curso está instalado junto à Paróquia Santuário do Senhor Bom Jesus, em Monte Alegre do Sul. Com um dinamismo próprio, o Curso possui uma organização que promove um discernimento vocacional mais aprofundado sobre a vocação sacerdotal, antes do ingresso no Seminário de Filosofia e Teologia São José, em Pedreira. Os jovens tem aulas de Português, Matemática, Química, Física, Biologia, História, Geografia, dadas por competentes professores. Por exemplo, a professora de História é Doutora pela Univesidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Estas matéria visam o vestibular ao fim do ano na Universidade Católica de Campinas. Além disso, há algumas disciplinas como Catescismo da Igreja, ministradas pelo Pe. César Domingues de Oliveira, Introdução à Filosofia e História da Igreja com o Pe. Anderson, Direção espiritual com o Pe. Jacinto Domênico, e a presença de Dom Pedro Carlos, aos sábados de manhã, para também ministrar um curso sobre o Ministério Presbiteral na Igreja. Também a contribuição de uma Psicóloga, Drª Elen, da cidade de Campinas. Enfim, no Curso Propedêutico Sant'Ana, os jovem possuem todos os instrumentos para realizarem um bom discernimento vocacional. Rezemos para que tenham perseverança!


DIOCESE DE AMPARO CELEBRA 13 ANOS DE SUA INSTALAÇÃO

                                                     
 Na noite de sexta-feira, 25, todo o clero diocesano esteve reunido na Catedral Nossa Senhora do Amparo para celebrar o 13º aniversário de instalação da diocese de Amparo. Presidida por dom Pedro Carlos Cipolini, bispo diocesano, a celebração contou com a participação de padres, seminaristas e fiéis vindos das paróquias da diocese.
Ao iniciar a celebração, o monsenhor Pedro Maia Pastana, fez um pequeno resumo da criação e instalação da diocese. Lembrou o monsenhor, do tempo em que se pensava no desmembramento da Arquidiocese de Campinas, passando pela criação da diocese de Amparo em 23 de dezembro de 1997, através da Bula do papa João Paulo II e sua instalação em 25 de março de 1998, até a posse de seu primeiro bispo diocesano, dom Francisco José Zugliani, hoje bispo emérito, e agora, com a nomeação e posse de seu novo bispo dom Pedro Carlos Cipolini.
Em sua homilia, Dom Pedro Carlos, lembrou das muitas realizações e bênçãos de Deus que sinalizaram o itinerário destes treze anos de caminhada da diocese de Amparo. “Louvamos a Deus por tanto bem realizado, sobretudo pelos sacerdotes ordenados neste período e que hoje, estão à frente dos trabalhos pastorais em nossa diocese”, disse o bispo. “Lembramos também, de dom Francisco José Zugliani, o primeiro pastor dessa Igreja diocesana e de seu trabalho na organização e na caminhada ao longo desses anos”.
O Bispo, também falou sobre a sua chegada na diocese e do anseio de toda comunidade diocesana por uma maior comunhão e participação na igreja. “Buscando satisfazer estes anseios, em especial o desejo de ter um Plano de pastoral, queremos viver um tríduo em comemoração aos quinze anos de nossa diocese que se dará em 2013”, disse o bispo. Lembrando que para este primeiro ano, foi programado três encontros de formação sobre a Palavra de Deus e sobre o Documento de Aparecida, em nível de Foranias e Paróquias. Já para o segundo ano do tríduo em 2012, será realizado um estudo da realidade pastoral da diocese. “A partir daí vamos formular nosso “objetivo pastoral”, escolher prioridades e articular um plano de pastoral. Desta forma esperamos que ao celebrar em março de 2013, os quinze anos de instalação de nossa Diocese, poderemos ter nosso Primeiro Plano de Pastoral, o que será uma conquista de todos e um marco na nossa história”, explicou.

Ao encerrar a santa missa, dom Pedro Carlos, agradeceu a presença de todos na celebração, especialmente os padres e seminaristas. Após, todos foram convidados a saborear um bolo servido na praça defronte a Catedral em homenagem aos treze anos da diocese de Amparo.

24 de mar. de 2011

Formação

Fundamentos e natureza da vocação sacerdotal - parte 1

Escrito por Cardeal Piacenza

         A Pastores dabo vobis, no n. 42, vê a raiz da vocação sacerdotal no diálogo entre Jesus e Pedro (cf. Jo 21): “Formar-se para o sacerdócio significa habituar-se a dar uma resposta pessoal à questão fundamental de Cristo: ‘Tu me amas?’ A resposta, para o futuro sacerdote, não pode ser senão o dom total de sua própria vida”.
         Considero uma observação teológico-espiritual como essa impregnada de importantes conseqüências, que iremos investigar. Antes, todavia, gostaria de fazer uma premissa, de caráter metodológico e semântico, a respeito do uso do termo “vocação”. Minha impressão é de que, hoje, esse termo seja usado com demasiada freqüência para indicar não tanto um chamado específico do Senhor quanto as escolhas de vida que os homens fazem autonomamente; a conseqüência disso é que qualquer profissão, trabalho, condição ou estado de vida passam a ser encarados como vocação!
         Parafraseando uma afirmação teológica do cardeal Cottier, segundo a qual, “se tudo é graça, nada é graça”, poderíamos dizer: “Se tudo é vocação, nada é vocação!”
        Apresentar tudo como “vocação” sem as necessárias distinções, traz consigo o risco de um grave achatamento, de um horizontalismo artificial e de uma “ordinarização” da vocação, que seria, assim, o resultado de uma simples escolha humana.
        Se é verdade que é lícito, ou melhor, necessário falar, por exemplo, de “vocação universal à santidade”, ou de “vocação à vida”, devemos reconhecer também que essas linguagens pertencem ao esquema teológico-moral que tem P. Haring como uma de suas maiores referências, e que interpretou a relação de salvação segundo o dístico: “Deus chama – o homem responde”. Não podemos deixar de reconhecer os méritos desse modo de encarar a questão, mas devemos avaliar também seus limites. De fato, essa interpretação, se não for adequadamente compreendida, pode levar a não considerar devidamente a dramática realidade do pecado das origens, “pecando”, por sua vez, por um certo otimismo e irenismo antropológico.
        Pessoalmente, estou convencido de que possamos, e devamos, voltar a fazer uma distinção bem clara entre “vocação natural” e “vocação sobrenatural”, reservando só a esta última, em sentido estrito, o significado autêntico de vocação. Nesse sentido, por exemplo, o matrimônio é, e continua a ser, uma belíssima realidade à qual todo homem, sadiamente orientado, é naturalmente chamado; portanto, propriamente, não haveria sentido em falar de “vocação” matrimonial, a não ser esclarecendo que se trata, mais que de uma “vocação”, de uma “inclinação natural”.
       O matrimônio cristão sacramental é que poderá, esse sim, ser descrito com “cores vocacionais”, já que nele o instituto natural foi elevado, por Nosso Senhor, à dignidade de sacramento (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1601). Mas, certamente, nem todos os movimentos da alma humana podem ser de origem sobrenatural: podemos imaginar muito bem o que aconteceria se qualquer “inclinação” dos homens fosse canonizada em presumível “vocação” divina. Fica claro, portanto, como esse modo de encarar a questão não se sustenta, quando confrontado com a realidade e, sobretudo, ao passar pelo crivo do drama universal do pecado, pelo qual nunca é lícito atribuir a Deus nenhuma responsabilidade.
        Portanto, quando falamos de “vocação”, é necessário recuperar o autêntico significado do termo, certamente reconhecendo que o próprio chamado a nos tornarmos cristãos é uma autêntica vocação sobrenatural, mas reservando o termo às vocações que, classicamente, sempre foram consideradas como tal (as vocações sacerdotais e à vida consagrada).
        Se é verdade que não nascemos cristãos – a não ser, em certo sentido, culturalmente -, mas cristãos nos tornamos, mediante o acontecimento do encontro com Cristo, que dá à vida um novo horizonte (cf. Deus caritas est, 1), é igualmente verdade, e uma verdade irrenunciável, que a vocação sacerdotal não é uma escolha humana, mas um chamado divino. É o ingresso sobrenatural de Deus na existência humana! Um Deus que chama o homem a segui-Lo radicalmente, totalmente, renunciando até mesmo a tudo o que é humanamente bom e lícito, para ser, para Ele e para o mundo, a “terra prometida” à tribo de Levi, a qual, para o culto ao Senhor, não possuía terra neste mundo. Lembremos o salmo: “Ó Senhor, sois minha herança e minha taça” (Sl 16,5).
        Essa tentativa de recuperação semântica do termo “vocação” tem enormes conseqüências de caráter metodológico, sobretudo no que diz respeito ao discernimento vocacional: se a vocação é um evento sobrenatural, o discernimento deve ser feito mediante o emprego de métodos sobrenaturais. Ao contrário, discernir a vocação, por exemplo, utilizando apenas técnicas psicológicas seria uma violência ao objeto, que impõe, ex natura sui, o método do conhecimento.
         A psicologia é um método natural, portanto inadequado para discernir a vocação sobrenatural. As ciências humanas podem ser sumamente úteis para “trabalhar sobre o humano”, que deve suportar a graça sobrenatural da vocação, mas não podem nunca se tornar critério último de discernimento vocacional.
É necessário, pois, levar em conta que o Senhor doa também, àqueles que chama, a graça de um extraordinário “florescimento humano”: a humanidade, tocada pela graça da vocação sobrenatural ao sacerdócio, e, de modo mais geral, à virgindade para o Reino dos Céus, floresce como nunca poderíamos pensar; e, se abandona o caminho da vocação, como confirma a experiência da Congregação, murcha repentinamente.
          A vocação sacerdotal é, portanto, um evento sobrenatural da Graça, uma intervenção livre e soberana do Senhor, que “chamou os que ele quis. E foram até ele. Então Jesus designou Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar” (Mc 3,13; cf. Pastores dabo vobis, 65). A esse evento sobrenatural responde a liberdade humana, aderindo à divina vontade e conformando-se progressivamente.
Voltando, então, ao incipit desta contribuição, ao n. 42 da Pastores dabo vobis, poderíamos dizer que, na base da vocação sacerdotal, está a relação de amor intenso, apaixonado, ardente, exclusivo e totalizante entre Cristo Senhor e aquele que é chamado. Sem essa experiência “subversiva”, que muda, e em certo sentido desconcerta, a vida, não se dá autêntica vocação, verdadeira compreensão da poderosa ação de Deus no itinerário histórico de cada um.
          Esse amor, que obviamente tem origens divinas, envolve realmente o coração humano, a inteligência, a liberdade, a vontade e a afetividade da pessoa que é chamada, uma vez que, graças justamente à profunda unidade do homem, todas as dimensões do eu são como que “arrebatadas” e profundamente mudadas pelo chamado do Senhor.
         Esse amor pelo Senhor, único real fundamento da Vocação, se documenta num aspecto, hoje infelizmente não suficientemente sublinhado, mas absolutamente central, da vida do sacerdote, e antes do seminarista: o amor à divina Presença de Cristo Ressuscitado na Eucaristia. Acredito que a adoração eucarística se deveria tornar uma prática cotidiana e prolongada, a ponto de marcar a formação do sacerdote, tanto inicial quanto permanente. Quantas e quantas coisas amadurecem sob o Sol eucarístico! E, se bronzeamos a pele ficando expostos aos raios do sol astronômico, que processo de crescimento, de “cristificação” não ocorrerá, se ficarmos sob os raios do Sol eucarístico? A vocação só nasce, cresce, se desenvolve, se mantém fiel e fecunda na intensa relação com Cristo.
           Mediante a Adoração da Presença real, a inteligência deve compreender que é Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo, a única verdade, a verdade total, o único insubstituível Salvador! Como seria possível, diferentemente, aculturar o futuro sacerdote de maneira cristã? De onde poderia se alimentar a missionariedade, que deve urgir como um rio em cheia?
           Certamente, a promoção dos valores humanos e um sentimento genérico de solidariedade não são razões suficientes para que alguém dê a vida, no martírio cotidiano da virgindade, da obediência e do serviço, e – quando para isso somos chamados – no martírio do testemunho até a efusão do sangue. Não damos a vida por uma idéia ou por um “valor”! Damos a vida por uma Pessoa! Uma Pessoa conhecida, amada, e pela qual somos amados: essa é a relação com Cristo, com quem se relacionam também a inteligência e a verdadeira formação intelectual.
             Mediante a Adoração da Presença real, o coração deve sentir a exclusividade do amor. Um amor que incendeia a tudo em nós e ao nosso redor! A verdadeira raiz do sagrado celibato está nesse amor. Longe de ser uma simples norma disciplinar, como alguns gostariam de dar a entender, o sagrado celibato, ou melhor, a virgindade para o Reino dos Céus, é a tradução existencial da Apostolica vivendi forma, que, à imitação do próprio Jesus, põe Deus em primeiro e único lugar, também entre os afetos. A “lei” é apenas uma conseqüência óbvia disso.
            Mediante a Adoração da Presença real compreendemos também o sentido profundo da disciplina eclesiástica, ou seja, de sermos discípulos de Cristo na Igreja. A tão vituperada disciplina eclesiástica nada mais é senão discipulado! Devemos recuperar urgentemente suas raízes, feitas de amor a Cristo e às almas, em razão d’Ele.
            A Adoração da Presença real é a verdadeira, e no fundo única, “escola da alegria”; em Cristo até mesmo o sacrifício é alegria, pois é participação do grande desígnio da salvação, algo desejado pelo Pai para a salvação dos homens.
            Nessa ótica, a penitência recupera seu valor sobrenatural, tornando-se uma verdadeira virtude, na tradição nunca banal, cheia de amor e ternura pelo Senhor e feita de atenções contínuas a Ele, da permanente memoria Crucis que caracteriza a vida dos santos e dos místicos, chegando mesmo à justa recuperação dos “fioretti”, ou seja, dos constantes gestos de memória e oferta, que tornam o dia totalmente preenchido por Cristo e por sua Presença. Para isso é preciso, porém, humildade, simplicidade e infância espiritual.
            Só nessa ótica é possível compreender na própria carne, também na formação no seminário e na formação permanente do sacerdote, o que é pertencer ao Corpo Místico e agir in Persona Christi, participando, até com os próprios sofrimentos, do mistério da substituição vicária, que o Sacerdote é chamado a viver em si mesmo cotidianamente.
             Um sacerdote que tenha essa consciência da Presença real de Cristo será um homem de Deus, casto, obediente, desapegado de toda a sua pessoa, portanto livre!
             A obediência, na Igreja, é certamente um conselho evangélico, uma virtude moral, mas é, sobretudo, uma representação permanente do próprio Cristo, “obediente até a morte, e morte de cruz” (cf. Fl 2,8), representação daquele amor que é redenção que escorre da árvore da Cruz, que é obediência, obediência que é amor, puro amor!
               Só nessas condições é possível educar ao verdadeiro sentido da Igreja, ao amor à Santa Mãe que a todos gerou e gera, na fé e no santo sacerdócio católico.
Por tempo demais, e em lugares demais, deixamos que o mundo educasse os seminaristas, abandonados à osmose com o clima disseminado numa sociedade relativista, hedonista, narcisista e, definitivamente, anticatólica!
               Dessa forma, permitimos que o mundo condicionasse o pensamento dos seminaristas, sua maneira de falar, sua maneira de criticar e de julgar a Mãe, ou seja, a Igreja, sua rendição a categorias de pensamento histórico-políticas, impostas pela hermenêutica da “descontinuidade”, dentro do único sujeito eclesial. Todo esse condicionamento, enfim, chegou até mesmo ao modo de se vestir, de cantar, e a uma certa “sexualização” irresponsável, mediante um uso imaturo e superficial dos gestos, emprestando todos esses aspectos do mundo! Bem sabemos que espírito do mundo e Espírito de Deus estão em oposição. Como sabemos também que o lugar teológico não é o mundo, mas, sim, a Igreja, presença de Cristo no mundo.
            Em que é que alguns seminaristas diferem de seus coetâneos secularizados?
            O que foi criado não é uma heresia, que faria o Corpo eclesial reagir prontamente, mas um clima geral, uma espécie de névoa que a tudo envolve, tornando-nos incapazes de ver e distinguir com clareza entre o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, a virtude e o vício.
            Para compreender tudo isso, poderíamos encontrar uma analogia com o que, no nível filosófico, e depois de maneira generalizada, ocorreu com o termo “moderno”: na linguagem comum, uma realidade é boa se é moderna. Não importa se é verdadeira ou falsa, se promove realmente o homem ou lhe causa danos; nada nos perguntamos sobre isso. É suficiente que seja “moderna” para que encontre simpatia e até acolhida nas mentes e nos corações, e, portanto, nos costumes.
           O mesmo se dá em alguns ambientes eclesiais; basta usar locuções já famosas como “depois do Concílio” ou “segundo o espírito do Concílio” para que ninguém ouse nem mesmo ir verificar se realmente aquela nobre Assembléia de Padres fez determinadas afirmações.
            Basta pensarmos, também, em algumas “palavras-chave” com as quais, às vezes, ótimas vocações são humilhadas, e se perdem: “é rígido demais”, “ligado demais à forma”, “não é aberto à diversidade”, “está convicto demais”, “não tem dúvidas”, “não elaborou criticamente a fé”, “rompe a comunhão”, etc.
             Precisamos, hoje, escapar a esse equívoco e dizer “pão, pão, queijo, queijo”, pois, enquanto não houver clareza sobre as moléstias, nunca poderemos identificar a cura, e tampouco poderemos construir uma maneira autenticamente católica e realmente moderna de formar o futuro clero do mundo.
Cardeal Piacenza - Jornadas de Formação Sacerdotal, a quinze anos da Pastores dabo vobis, Pontifício Colégio Espanhol de São José, Roma, 7 de novembro de 2008

22 de mar. de 2011

Adoração Eucarística pelas Vocações


Cardeal Piacenza pede adoração eucarística pelas vocações

Cada diocese precisa de uma capela de adoração dedicada a rezar pelos sacerdotes

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 22 de março de 2011 (ZENIT.org) - O cardeal Mauro Piacenza, prefeito da Congregação para o Clero, afirma que não se pode subestimar o valor da adoração eucarística, e recomenda que cada diocese tenha uma capela ou santuário para a adoração eucarística, dedicada à oração pelas vocações consagradas e pela santificação do clero.
          Isto foi afirmado em uma nota enviada, no último dia 4 de março, a Dom Dominique Rey, bispo de Toulon (França). Este bispo está promovendo uma conferência internacional sobre a adoração eucarística, que será realizada de 20 a 24 de junho, no ‘Salesianum' de Roma.
          "Não podemos subestimar a importância de adorar o Senhor no Santíssimo Sacramento, sabendo que o culto é o maior ato do povo de Deus", escreve o cardeal.
           A este respeito, acrescenta que a adoração eucarística é "um meio eficaz para promover a santificação do clero, a reparação dos pecados e as vocações ao sacerdócio e à vida religiosa".
           "Com coragem, devemos pedir ao Senhor que envie novos operários para a sua messe", diz o cardeal Piacenza.
            Acrescenta a recomendação de que "em cada diocese haja pelo menos uma igreja, capela ou santuário dedicado à adoração perpétua da Eucaristia, pela intenção específica de promover novas vocações e pela santificação do clero".
            "Um renovado sentido da devoção a Cristo na Eucaristia - conclui o cardeal Piacenza - só pode enriquecer cada aspecto da vida e da missão da Igreja no mundo."

Fonte: Zenit

Notícia

Sacerdotes e teólogos precisam de mais metafísica

Apresentada reforma dos estudos eclesiásticos de filosofia
CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 22 de março de 2011 (ZENIT.org) - É necessário aumentar os estudos dedicados à filosofia, não como uma extensão das ciências humanas, mas entendida no seu núcleo central: a busca da verdade, acompanhada por uma disciplina estrutural como a lógica, em um período histórico em que a razão é ameaçada pelo relativismo.
            Este é um dos temas centrais do "Decreto de reforma dos estudos eclesiásticos de filosofia", aprovado pelo Papa Bento XVI em 28 de março e apresentado hoje, em coletiva de imprensa, pelo cardeal Zenon Grocholewski, prefeito da Congregação para a Educação Católica.
            Acompanhavam-no o cardeal Jean-Louis Bruguès, secretário da Congregação, e o reitor da Universidade Pontifícia de São Tomás de Aquino (‘Angelicum'), Charles Morerod. Na apresentação, além dos jornalistas, havia também um numeroso público acadêmico.
           "‘Ecclesia semper est reformanda' atende às novas exigências da vida eclesiástica nas mutáveis circunstâncias socioculturais", disse o cardeal Grocholewski, lembrando que existe atualmente grande "fraqueza na formação filosófica de muitas instituições da Igreja".
Isso, também, "em uma época em que a própria razão é ameaçada pelo utilitarismo, pelo ceticismo, pelo relativismo e pela desconfiança da razão para conhecer a verdade sobre os problemas fundamentais da vida", constatou.
           Esta reforma, portanto, leva a cabo as recomendações feitas na encíclica ‘Fides et ratio', de João Paulo II, já que "a teologia sempre teve e continua tendo necessidade da filosofia". Caso contrário, disse o cardeal, "a teologia não tem o chão sob seus pés".
           Que filosofia?
           O cardeal Grocholewski explicou que a intenção da Igreja é recuperar a metafísica, isto é, uma filosofia que volte a apresentar as questões mais profundas do ser humano.
           Os avanços tecnológicos e científicos, afirmou, "não abrangem a totalidade do saber; sobretudo, não saciam a sede do homem sobre as perguntas últimas: em que consiste a felicidade? Quem sou eu? O mundo é resultado do acaso? Qual é o meu destino? Hoje, mais do que nunca, as ciências precisam de sabedoria".
             Pretende-se, portanto, "recuperar a vocação original da filosofia, ou seja, a busca da verdade e da sua dimensão sapiencial e metafísica", insistindo "na necessidade de ampliar os espaços da racionalidade", por um lado, e de "defender-se do perigo do fideísmo", por outro.
             Nesse sentido, o reitor da ‘Angelicum', Charles Morerod, explicou a importância da metafísica para o estudo da teologia, e convidou a "recuperar com força a vocação original da filosofia".
            "O cristianismo pressupõe uma harmonia entre Deus e a razão humana. A busca filosófica pode, portanto, confiar, e o crente pode evitar opor à sua fé uma verdade encontrada com a razão."
             A reforma, portanto, pretende sublinhar "o caráter sapiencial e metafísico da filosofia". "O papel central da metafísica deve ser entendido, assim, à luz da importância da filosofia do conhecimento humano."
"A importância da filosofia está diretamente ligada ao desejo humano de conhecer a verdade e organizá-la. A experiência mostra que o conhecimento da filosofia ajuda a organizar melhor, em cooperação com outras disciplinas, o estudo de qualquer ciência."
            "A metafísica quer conhecer o conjunto da realidade - que culmina com o conhecimento da ‘Causa primeira' de tudo - e mostrar a inter-relação entre os vários campos do saber, evitando o encerramento de cada ciência em si", acrescentou o reitor da ‘Angelicum'.

O tomismo
            "A Igreja dá destaque à filosofia tomista, não como exclusiva, mas exemplar", recordou o cardeal Grocholewski, em seu discurso, citando a ‘Fides et Ratio', quando afirma que "nem todas as filosofias são compatíveis com fé e com uma razão adequada à verdade".
            O Papa Bento XVI aprovou as alterações que reformam três artigos da Constituição Apostólica ‘Sapientia christiana', em 28 de janeiro, dia de São Tomás de Aquino. A maioria das mudanças se relaciona com as normas de aplicação.
           O cardeal sublinhou também que a lógica na filosofia é necessária na medida em que é uma disciplina estruturante para a razão, desaparecida sobretudo devido ao atual colapso da cultura cristã.

Mais filosofia
             Dom Jean Louis Bruguès explicou que a reforma afeta as faculdades eclesiásticas de filosofia, o primeiro ciclo de teologia, as instituições de filosofia filiadas ou ligadas a uma faculdade de teologia e as instituições teológicas agregadas a uma faculdade de filosofia.
            Nas faculdades eclesiásticas de filosofia e nos institutos de filosofia, o primeiro grau dos estudos eclesiásticos dura de 2 a 3 anos. "Isso porque a experiência tem demonstrado que a duração anterior não era suficiente", disse ele. Entre as disciplinas obrigatórias - filosofia do conhecimento, da natureza, do homem e do ser -, agora se acrescenta uma disciplina estrutural: a lógica.
Também se estabelece uma hierarquia entre as disciplinas, de acordo com o grau de obrigação, e se enfatiza a importância de "ler os textos dos autores mais significativos".
            Para melhorar a qualidade dos estudos dos futuros sacerdotes, professores e especialistas, portanto, será necessário ter professores devidamente qualificados, com doutorado em filosofia e, na medida do possível, que este título seja eclesiástico. E assim, as faculdades de filosofia precisarão de um mínimo de 7 professores estáveis ​​(5, no caso dos institutos).
             Nas faculdades de teologia, no entanto, o número total de anos de estudo não mudará, mas vai aumentar o peso da filosofia nos primeiros anos, também em número de créditos. Além disso, "o número de professores estáveis deve ser de pelo menos 2".

Fonte: Zenit

20 de mar. de 2011

Encontros Vocacionais Diocesanos

Pastoral Vocacional realizou mais um Encontro Vocacional

             Ontem, 20 de março, no Centro de Pastoral Nossa Senhora do Amparo, a Pastoral Vocacional, sob direção do Pe. Anderson Frezzato, realizou mais um Encontro Vocacional.
             Rezemos por estes jovens para que façam um bom discernimento vocacional.

PARA PENSAR!!!

              Você também é responsável pelas vocações! O que você tem feito pelas vocações? Motiva os jovens de sua paróquia? Você acompanha os seminaristas com suas orações? Você reza pela santificação do Clero?

Veja mais fotos ao lado!

19 de mar. de 2011

Dois seminaristas são admitidos como Candidatos à Sagrada Ordem

Dom Pedro Carlos, Bispo Diocesano de Amparo, no dia 18, em Missa  no Seminário São José, admitiu como Candidatos à Sagrada Ordem os Seminaristas André Luiz Rossi e Bruno Pereira Gandolphi, ambos do 3º ano de Teologia.


            “O Senhor conduz e assiste com a sua graça os que escolhe para participar do sacerdócio hierárquico de Cristo, enquanto os confia a nossos cuidados, para que, ao reconhecermos sua idoneidade, possamos chamá-los como candidatos comprovados e consagrá-los ao serviço de Deus e da Igreja, pelo especial dom do Espírito Santo”. (Pontifical Romano, Rito de Admissão entre os candidatos à Ordem Sacra).
            Desde o primeiro chamado que ressoa no coração daqueles que se dispõem a se dedicar ao ministério sagrado, ainda que inicialmente as dúvidas possam surgir, o medo e a insegurança tentem fazê-los desistir, Deus já infunde nas almas a graça necessária para que sejam fiéis à sua vocação, não importando as dificuldades pelas quais haverão de passar. É evidente que a graça sem o esforço humano é inócua. Por isso Deus conta com a resposta livre e responsável do homem pois, como diz Sto. Tomás de Aquino, “a graça completa a natureza”.  Chamado e resposta são a base de qualquer vocação, especialmente a vocação sacerdotal, sendo dever do futuro sacerdote cultivá-la por todos os dias de sua vida, já que o homem é constantemente chamado por Deus, acima de tudo, à santidade. Dessa forma, sobretudo o sacerdote e aqueles que são vocacionados, devem estar sempre atentos a esse chamado e prontos a respondê-lo.
            “Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos”. É com esse pensamento que Sto. Agostinho definiu o caminhar da vocação sacerdotal. Aqueles que se sentem chamados ao ministério sagrado não são livres de erros e pecados, de limitações e fraquezas, de dificuldades e perseguições; em outras palavras, não são “seres especiais”, mas homens como os outros, buscando através do estudo, da oração, da convivência fraterna e dos sacramentos e deixando-se lapidar por Deus como uma jóia pelo ourives, chegar à realização da vontade de Deus em suas vidas.
            Para isso, é necessário o cumprimento de algumas etapas para chegar ao sacerdócio, sendo a primeira delas a Admissão dos candidatos à Ordem Sacra. Anteriormente ao Concílio Vaticano II, o Rito de Admissão era o Rito da Primeira Tonsura Clerical, na qual o candidato já era incorporado ao estado clerical. Após a Reforma Litúrgica do Concílio, as “Ordens menores”, nas quais o Rito da Primeira Tonsura estava inserido, passou a ser chamado Rito de Admissão entre os Candidatos à Ordem Sacra, deixando de outorgar caráter clerical ao candidato, sendo este conferido somente no Diaconato.
            É com grande alegria que nossa Diocese, na pessoa do Bispo, vê se concretizar esse primeiro passo na vida de dois jovens seminaristas: Bruno Pereira Gandolphi e André Luiz Rossi, que, aos 18 de Março do ano do Senhor de 2011, foram admitidos como Candidatos à Ordem Sacra.
            Rezemos por esses dois jovens para que sejam iluminados e fortalecidos pelo Espírito Santo de Deus e que pela intercessão de Maria, mãe e rainha dos sacerdotes, possam viver segundo a vontade de Deus, servindo-O na Igreja de Cristo e dando a vida por suas ovelhas.

Parabéns, Seminaristas André e Bruno, por mais este passo importante.
Pastoral Vocacional Diocesana

18 de mar. de 2011

Espiritualidade

A vida espiritual
 
“A oração, o diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim como os nossos olhos são iluminados quando recebem a luz, a alma que se eleva para Deus é iluminada por sua luz inefável. Falo da oração que não é só uma atitude exterior, mas que provém do coração e não se limita a ocasiões ou horas determinadas, prolongando-se dia e noite, sem interrupção”.
Pseudo-Crisólogo, Hom.6  de precatione

Uma das imagens mais frequente que toma a imaginação quando escutamos o termo “vida espiritual” é a barroca pintura de vigílias e procissões, projetada com uma luz tão intensa que parece ofuscar qualquer traço do cotidiano que se encerre na moldura. Um verdadeiro contraste entre oração e vida semelhante àquele entre as luzes e as trevas é o que se depreende de tal quadro. Não que todos os que nos comprometemos com práticas devocionais vivamos esta cisão entre o espiritual e o terreno; o fato é que há certa confusão em torno da questão da oração e da vida espiritual.
            Não são poucos aqueles que se dizem religiosos por repetirem certas orações, encarando-as como uma espécie de seguro de previdência. Dia após dia, no simples cumprimento de alguns ritos, o fiel se vê justificado diante de Deus e livre da danação sem fim. A oração, assim compreendida, mais se refere à esfera da fantasia mágica que a qualquer outra coisa. Isso se deve, de certa forma, a uma crise profunda da compreensão do mundo, da religião e de Deus. Supõe-se uma dicotomia intransponível entre a esfera do espiritual e a do terreno, como se Deus tivesse criado o homem de corpo e alma para que ele vivesse com um e rezasse com outro. Esse não é, porém, o ensinamento da Igreja. O homem foi criado para conhecer, servir e amar a Deus nesta vida e merecer, assim, a vida com o próprio Deus para sempre no céu[1]; em outras palavras, a vida do homem sobre a terra tem um propósito que não se esvai na certeza iminente e angustiante de sua morte, visto ter ele se encontrado com o Amor do Criador que, vindo ao seu encontro, superou esse certo limite da contingência em sua Ressurreição. Ora, se essa é a novidade que o Cristianismo nos oferece, e se isso significa que viver  a vida nova é se configurar a esse propósito transcendente do amor que vence a morte, então se vê que o acontecimento escatológico é a verdadeira vida que devemos viver e esperar. A separação entre o espiritual e o terreno é uma caricatura dessa complementaridade e plenitude que nos dão o verdadeiro sentido de nossa existência. Só dessa forma compreendemos nossa vida em todos os seus aspectos, inclusive na dimensão da vida de oração, ou vida espiritual, como se queira dizer.
            Talvez não restassem tantas dúvidas e contradições se, ao falarmos de vida espiritual, pretendêssemos falar a respeito de nossas orações. Mas, afinal, o que é oração? Em uma rápida tentativa de resposta, poderíamos dizer que ela é a elevação da mente e dos afetos ao desígnio de amor de nosso Deus; é o momento que nos colocamos em Sua presença e buscamos adequar nossa vontade à Sua; é quando reconhecemos a nossa pequenez e insuficiência e entregamos toda a nossa vida, preocupações e alegrias, angústias e esperanças, à sua misericordiosa proteção. Bem, tais asserções ficariam mais esclarecidas se nos amparássemos em algumas imagens bíblicas para refletir o tema.
            A primeira das passagens que muito nos poderia ajudar na reflexão está inserida no momento mais dramático de toda a Sagrada Escritura.  Jesus está na cruz, pregado e flagelado pelo desprezo e ingratidão de toda uma história de homens que Ele assume em sua Paixão. Completamente abandonado, não fosse a ternura de sua mãe e a companhia de algumas poucas outras mulheres. Mas, ainda assim, este Deus, que não desistiu do homem, apesar de todos os pesares que lhe poderiam ser imputados, continua convidando a cada um para que se acerque de seu mistério de amor e receba a graça de Sua entrega.  Do alto da cruz ele exclama: “Tenho sede” (Jo 19,28), um grito que vai muito além de uma necessidade física.
            De certa maneira, nós podemos ver, nessa súplica de Jesus, a essência de sua própria Encarnação: o Verbo se fez carne e habitou entre nós para que a humanidade pudesse, enfim, habitar novamente com Deus. Ao entender, assim, esse plano de Salvação, nós também compreendemos o propósito mais íntimo de nossa natureza: a comunhão com Deus. O Catecismo da Igreja, em consonância com essa ideia, quando inicia sua última seção, que versa, justamente, sobre o tema da oração, utiliza-se dessa cena do evangelho para dizer ser a oração “o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede dele” [2]. E esta é, de fato, a essência da oração. Nestes momentos em que nos colocamos na presença de Deus e invocamos o seu nome, nós buscamos esse anseio profundo de nossa alma, que sempre clama por algo a mais daquilo que encontramos em nossa vida. Por melhores que sejam as condições e os acontecimentos de sua vida, não há só um homem que não aspire à totalidade plena e imperecível, cujo reflexo ele vê nas realidades que lhe circundam. O homem tem sede desse Deus que também quis ter sede dele. A oração é o encontro em que começamos a saciar nossa sede. Aqui, no entanto, um segundo trecho da Sagrada Escritura nos seria de bom proveito para continuar refletindo sobre o significado da oração.
            “Uma só coisa é necessária,” diz Jesus, que continua: “e Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada” (Lc 10,42). Nessa afirmação, mais uma vez, a essência da vida humana nos é esclarecida: estar junto de Deus e participar de sua vida bem-aventurada. Ora, se a oração é estar diante de Deus, e se o propósito de nossa vida não é outro senão esse, então entendemos que a oração é a condição da plenitude e da integralidade de nossa vida: todas as ações humanas convergem nesse ato e têm o seu sentido absoluto nele. Sem a oração, sem a consideração de tal proximidade de Deus com os seus, nós não viveríamos plenamente as possibilidades que a vida nos oferece, sem saber que tudo caminha para sua realização plena em Deus, tudo seria nada mais que uma sufocante sucessão de fantasmas.
            Bem, alguém, muito sincero e comprometido com a causa da história, a esta altura da exposição, poderia se levantar e objetar que tal concepção de mundo, de religião e de Deus aliena o homem de seus compromissos, torna-o apático às circunstâncias que lhe tocam, além de descomprometido com o meio em que vive; a própria vida, por fim, concluiria o queixoso, estaria desprovida de sua natural beleza e relevância. Ora, alguma verdade haveria nessa crítica se a oração fosse compreendida conforme o modelo mágico mencionado a pouco. O que se viu, entretanto, foi que aquela nada mais é que uma caricatura da verdadeira vida espiritual. A verdadeira vida espiritual é, simplesmente, um dos modos imprescindíveis para se viver a vida nova, a vida em Cristo, que a Redenção nos propõe. Para esclarecer, todavia, a possível objeção, seria interessante evocar o exemplo de Moisés a esse respeito.
            O capítulo 33 do livro de êxodo relata como este servo do Altíssimo gerenciava seus afazeres. Jamais ele poderia se olvidar das obrigações terrenas, visto ser ele o líder de todo um povo. No entanto, antes de qualquer decisão, ele se retirava do acampamento e se colocava na Presença do Senhor, para escutar dEle a melhor maneira de proceder (cf. Ex 33, 7-12). Comenta este trecho São Gregório Magno: “Dentro [da tenda] arrebatado até as alturas mediante a contemplação, fora [da tenda] deixa-se encalçar pelo peso dos que sofrem” [3]. Essa precisa cena responde às dúvidas sobre o suposto descompromisso histórico da oração. Somente quem reza é que poderá, de fato, contribuir para a construção da história, porque buscará cumprir a vontade de Deus e não saciar a sua avidez e ganância que é fruto somente de desunião e destruição. Além do mais, há um grande risco, neste ponto, que merece ser considerado com atenção. Muitas vezes acreditamos e professamos sermos o alicerce do universo e que, sem nós e a nossa ação, o mundo ruiria. Ora, essa é a convicção de muitos que se foram e nada mais erigiram de perpétuo que não as lápides lúgubres do cemitério. É importante que compreendamos ser Deus o único que governa o mundo, não nós[4]. Nós só poderemos contribuir em Sua criação quando nos colocarmos afirmativamente na lógica de Sua Redenção de renunciarmos a nós mesmos. Sem isso, por mais que façamos, certamente estaremos contribuindo não para edificar, mas para destruiu a obra de Deus.
            Essas três citações bíblicas nos deveriam ter ajudado a compreender a essência da oração, que não pode jamais estar separada da essência do mundo, de nossa vida e, sobretudo, do próprio Deus. Nas nossas devoções, em nossa vida espiritual, estamos diante de Deus de um modo distinto de como o estaremos após as nossas orações. Isso não pode jamais significar que não o estaremos também nas demais circunstâncias de nossos dias; muito pelo contrário, não há qualquer descontinuidade entre estes dois momentos, mas, simplesmente, a possibilidade única de integração e plenitude. Somente com a oração, com a presença de Deus em seu seio, a vida se torna plena.
            De tudo o que se falou, um resumo talvez se encontre na história daquele pai que expôs, em seu escritório, um prosaico desenho que seu filho lhe fez. O desenho é simplório e desprovido de qualquer valor artístico, em comparação com o antigo Monet que lhe adornava o ambiente. Mas nada importava para aquele homem. Quando olhava para aquela pequena figura que caminhava unida pelas mãos com a figura maior, o pai se recordava do grato e amoroso esforço de seu filho por lhe agradar. Não eram necessários feitos épicos para contentar o coração daquele homem: um simples desenho, a busca de, no mais simples ato, agradar ao pai, o sincero esforço ainda que falho por imitar o pai em sua vida, tudo isso já bastava para que aquele homem transbordasse em alegria e derramasse em seu filho as mais sinceras e copiosas manifestações de seu amor. Esta é a nossa oração: um amor que se traduz em balbucios contínuos e que tem um valor inestimável aos olhos de Deus, por mais insignificantes que sejam, porque são a confissão leal de se buscar a Sua vontade. Essa é a vida espiritual, a vida nova, plena e verdadeira que Jesus possibilitou.




[1]  Cf. Catecismo da Igreja Católica, §1.
[2] Ibid. § 2560.
[3] II, 5: SCh 381, 198.
[4] Cf. Bento XVI. “Deus Caritas est”, §34.

Texto: Seminarista Murilo Daniel Botelho Gomes -  2 ano de Teologia

15 de mar. de 2011

Saiba mais sobre o Diretor do Curso Propedêutico!

Pe. Anderson Frezzato, Diretor do Curso Propedêutico Sant'Ana - Diocese de Amparo
 
             Padre Anderson Frezzato, nasceu aos 20 dias do mês de novembro do ano de 1984, na cidade de Santo Antonio de Posse. Filho de Reinaldo Frezzato e Aparecida da Silva Frezzato. Tem um irmão, Jeferson Frezzato. Freqüentou Encontros Vocacionais no ano de 2003, na cidade de Amparo, no Colégio das Irmãs Dominicanas, entrando para o Curso Propedêutico em 5 de março de 2004, curso este que funcionava nas dependências da casa paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Amparo, a Catedral Diocesana. Prestou vestibular na Pontifícia Universidade Católica em Campinas para o curso de Filosofia (2004-2006). Findado o curso de Filosofia, foi encaminhado ao curso de Teologia (2007-2010). Realizou estágio pastoral na Paróquia São João Batista, em Amparo, nos anos de 2005 a 2006 e na Paróquia Santa Maria, em Jaguariúna, nos anos de 2007 a 2010. Foi acessor da Pastoral Vocacional Diocesana desde 2006. Foi ordenado Diácono em 10 de junho de 2010, na Catedral Diocesana, por Dom Francisco José Zugliani. No dia 11 de junho foi nomeado para os serviços pastorais junto à Paróquia de Santo Maria, em Jaguariúna. Foi ordenado Presbítero, no dia 5 de dezembro de 2010, por Dom Pedro Carlos Cipolini, Bispo Diocesano de Amparo. Foi nomeado pelo Sr. Bispo  como Administrador Paroquial da Paróquia Santuário do Senhor Bom Jesus em Monte Alegre do Sul, tomando posse dia 18 de dezembro de 2010. Também foi nomeado Diretor do Curso Propedêutico Sant’Ana que está instalado junto ao Santuário, sendo também  o Coordenador da Pastoral Vocacional Diocesana.

Notícia

Igreja, sacerdócio, democracia e outros assuntos essenciais

Entrevista com Pe. Laurent Touze, professor da Universidade da Santa Cruz

ROMA, segunda-feira, 14 de março de 2011 - Será que a Igreja deve necessariamente adaptar-se a todas as mudanças culturais do tempo em que se encontra? É esta a maneira correta de dialogar com o mundo?

Diante da viagem de Bento XVI à Alemanha, em setembro próximo, e do manifesto que 143 teólogos assinaram há alguns dias, nas universidades germanofalantes, no qual pedem que o Vaticano autorize a ordenação sacerdotal de mulheres, o casamento dos padres e a eleição popular de bispos, ZENIT entrevistou o sacerdote francês Laurent Touze, da Pontifícia Universidade da Santa Cruz.

        As assinaturas foram publicadas no jornal "Süddeutsche Zeitung", com o título "Igreja 2011: uma pertença necessária".

        O Pe. Touze publicou, no Ano Sacerdotal, o livro "L'avenir du célibat sacerdotal" ("O futuro do celibato sacerdotal"), Parole et Silence/ Lethielleux.

         ZENIT: A aboli ção do celibato é realmente a solução para a vida dupla ou para a dupla moral que alguns sacerdotes vivem?
          Pe. Laurent Touze: A verdadeira solução para a vida dupla, para o farisaísmo do "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", é simplesmente a conversão. Muitos homens e mulheres de hoje intuem que a fé pode ser a resposta para o que eles procuram, muitas vezes sem perceber; mas se dão conta de que dizer "sim" a Deus lhes implicaria em mudar a vida moral, abandonar seus apegos próprios e isso seria muito custoso.
        Hoje vemos padres hipócritas, não coerentes - e a observação se aplica a todos os cristãos, não só aos sacerdotes; encontramos uma desculpa para não nos convertermos. Nós, crentes, temos grande parte da culpa, se esses homens e mulheres não acham a alegria e a paz do encontro com seu Pai. Nossa coerência ambiciosa e humilde, com a fé, permitirá que Deus converta seus corações.
ZENIT: Geralmente as pessoas associam o celibato com a Idade Média. O senhor acha que o celibato é realmente uma medida conservadora, ou faz parte da Igreja e da vocação ao sacerdócio?
Pe. Laurent Touze: Trabalhos científicos como os do Pe Christian Cochini ou de Stefan Heid recordam que os sacerdotes dos primeiros séculos viviam, todos, a continência sexual: ou porque eram celibatários, porque eram casados ​​ou porque renunciaram ao matrimônio depois da ordenação.
         O celibato para todos os sacerdotes latinos é como uma evolução desta antiga tradição. Renunciando ao matrimônio, que é um dom maravilhoso de Deus, o sacerdote não despreza a carne, a sensualidade. Na verdade, ele oferece o próprio corpo, como o Senhor Jesus se doou à Igreja. Com seu celibato, o sacerdote se torna adequado à Eucaristia que celebra. Porque diz em público, em nome do Senhor, "este é o meu corpo, este é o meu sangue, que será derramado", também é chamado a oferecer publ icamente sua vida a servir seus irmãos.
       ZENIT: Um grupo de teólogos busca o sacerdócio feminino. É uma questão de igualdade?
       Pe. Laurent Touze: Não, é u ma questão de fé. A igualdade dos batizados é um princípio básico da Igreja. O que está em jogo aqui é que a Igreja não é uma criação nossa; ela vem de Deus, quem nos dá as características que não podemos mudar como se muda uma Constituição. Que o sacerdócio seja reservado aos homens faz parte dessas características. A Igreja sabe disso há muito tempo, e assim será para sempre.
        ZENIT: Também se pediu a eleição popular dos bispos. É "antidemocrático" deixar essa decisão somente para o Papa?
        Pe. Laurent Touze: O Papa não decide sozinho! Ele acompanha um longo processo de consulta, no país do bispo que quer nomear e, depois, em Roma. Nos últimos séculos, a Igreja tem conseguido, em muitos países, garantir a sua liberdade na decisão dos bispos, sem ter de se submeter aos chefes de Estado, a critérios políticos, ao invés de pastorais.
         Eu não acho que seja um progresso o fato de transformar a escolha de bispos em uma eleição política ou sujeita a sondagens e manipulações. O que me parece fundamental é que o processo de nomeação permita que o povo de Deus tenha pastores fiéis e corajosos.

Fonte: Zenit