25 de jul. de 2011

Entrevista com Dom Pedro Carlos

Dom Pedro Carlos, em entrevista, fala sobre o Ano Sacerdotal, um ano depois.


  1. O que significou o Ano Sacerdotal decretado pelo papa Bento XVI? Qual foi objetivo?
O Ano Sacerdotal foi um período de 19/06/2009 a 19/06/2010 dedicado aos sacerdotes do mundo inteiro. O papa Bento XVI quis assim, comemorar os 150 anos da morte do padroeiro dos párocos, São João Batista Maria Vianney, conhecido como Cura D’Ars, que viveu na França entre 1786 e1859. Foi pároco exemplar destacando-se por seu zelo pastoral e santidade de vida. O objetivo do Ano Sacerdotal, em relação aos padres foi fomentar o empenho de renovação interior de todos os sacerdotes, para um testemunho evangélico vigoroso. Em relação aos demais fiéis, foi provocar reflexão sobre o papel e a importância da missão do sacerdote na Igreja e no mundo contemporâneo.Foi um evento extraordinário que no seu encerramento reuniu milhares de sacerdotes na Praça S. Pedro em Roma. Conseguiu evidenciar o lado positivo e a autoestima dos sacerdotes do mundo inteiro.

  1. Qual a importância do sacerdote na Igreja e na Sociedade?
A importância do sacerdote na Igreja é considerável. É uma função eclesial relacionada à paternidade, por isso a palavra padre=pai para designar o sacerdote. É homem da Palavra e da Oração, da Eucaristia: homem de Deus. Na Igreja o sacerdote, colaborador do Bispo, exerce a função do pastor, aquele que cuida, nutre e serve, a exemplo de Jesus Cristo que “amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5, 25). Na nossa sociedade o padre tem, por vários fatores, inclusive históricos, um papel relevante. Aqui mesmo em Campinas quantas iniciativas construtivas para a vida do povo não foram tomadas e levadas avante por sacerdotes? Basta pensar na Santa Casa fundada pelo Pe. Vieira, a PUC por Mons. Salim e Dom Barreto. Nossa cidade tem inúmeros logradouros e estabelecimentos públicos que sinalizam com nome de sacerdotes, a importância que tiveram na sociedade.

  1. Como os fiéis devem posicionar?
Acolhendo os sacerdotes e procurando aceitá-los na fé, apesar dos seus limites, pois não são super-homens. O sacerdote é de uma grandiosidade ímpar: “É expressão do amor do coração de Jesus”, no dizer do Cura D’Ars. Mas é humano! Por isso a postura dos fiéis deve ser de colaborar com os padres. Mesmo quando esta colaboração deva ser na forma de correção fraterna. Alguns padres têm falhas que chamam atenção, geram desaprovação, mas são exceções. Uma árvore ou outra que tomba na floresta faz muito barulho, mas a maioria absoluta das outras árvores, continuam em silêncio crescendo e purificando o ar com seu trabalho. É o que acontece com os sacerdotes.

  1. Escolher um padre para rezar pela sua santificação?
É uma pratica salutar, muitos fiéis já a adotam. O sacerdote reza pela comunidade e para a comunidade e a comunidade deve rezar por seus sacerdotes. O pároco é a vocação sacerdotal confiada à comunidade para que ela a cultive e alimente sempre, com suas preces, acolhida e seu amor. Devemos rezar, sobretudo para que os padres permaneçam fiéis à própria vocação até o fim, com paciência e coragem, não buscando somente resultados, mas  sendo testemunhas do amor misericordioso de Deus.

  1. Como se dá o chamado de Deus para o jovem ser sacerdote?
Está aí um mistério. Lendo os relatos bíblicos das vocações dos profetas e outros escolhidos por Deus, percebemos que a escolha é de Deus, Ele é quem toma a iniciativa. Jesus deixa claro, “fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16). Porque Ele escolhe um e não outro? São segredos que pertencem à misericórdia de Deus. Agora, ao chamado corresponde a resposta, e aí entra a generosidade de cada um. Aquele que responder sim deverá assumir seu sim com alegria, fidelidade, paciência. A resposta positiva de um jovem ao chamado de Deus também é um mistério que pertence á ação da graça. Graça que anima o jovem a assumir a vida apostólica pública, na qual ele, ao mesmo tempo que é tirado do meio dos outros, pela escolha de Deus, é “atirado” no meio dos irmãos para  amar e servir como pastor até o fim de sua vida.

  1. Sente-se feliz como sacerdote, bispo?
 Sim, penso que Deus confirmou minha vocação (já são trinta e três anos de sacerdócio e agora bispo) fazendo-me cada dia mais feliz e sereno, no cumprimento de minhas obrigações. Sinto que não me enganei, sei em quem acreditei.E tudo que fiz como sacerdote e faço como bispo o faço em nome de Jesus, que é meu lema de vida desde minha ordenação. Apesar de minhas limitações, cada dia, renovo meu sim ao chamado e recomeço com os olhos postos em Deus e no seu povo a quem devo servir. Tudo que a Igreja me solicitou e solicita, procuro realizar da melhor maneira possível, entendendo que o ministério ordenado é um ministério eclesial. Peço a cada dia as luzes do Espírito Santo para poder discernir sempre qual a vontade de Deus para mim, e assim poder realizar-me sempre mais em minha vocação ao cumpri-la. Vejo que a missão do bispo é árdua, exigente e muitas vezes o bispo está só. Mas aí Jesus Cristo o conforta, pois é o amigo certo nas horas incertas, Ele é o caminho para a verdade e a vida e Nele o bispo tem se porto seguro, sua rocha firme.

  1. Tem alguma mensagem ou conselho aos sacerdotes?
Se puder dizer algo neste sentido, o conselho que dou é que cuidem bem da vocação, não descuidem do primeiro amor, do zelo e alegria de servir que marcam os primeiros tempos de sacerdote. O que é mais triste e faz o povo sofrer é perceber que o padre,  tem vocação para o sacerdócio mas acabou assumindo-o por conveniência, ou está descuidando de sua vocação. É preciso, que o padre cuide de seu lado emocional, de sua afetividade, de sua espiritualidade e aqui a oração tem um papel importantíssimo.  A mensagem que deixo é esta: oração é o sustento vigoroso do sacerdote, chamado primeiro a estar com Jesus, ser seu amigo e discípulo e depois ser missionário. De fato, Jesus “instituiu doze, para que ficassem como ele e para enviá-los a pregar”(Mc 3,14).