22 de fev. de 2012

Homilia de Dom Pedro Carlos Cipolini em Missa de Encerramento de Retiro Espiritual

Homilia de Dom Pedro Carlos Cipolini


HOMILIA
MISSA DE ENCERRAMENTO DO RETIRO ESPIRITUAL
DOS SEMINARISTAS DA DIOCESE DE AMPARO –  Dom Pedro Carlos Cipolini – Bispo Diocesano


                Neste momento em que nos é proposto refletir a Palavra de Deus, nosso sentimento em primeiro lugar é de gratidão. Vocês estão iniciando mais um ano de caminhada na busca de cumprir vossa vocação, e isto é uma grande graça de Deus, sabendo que Ele acompanha a todos com seu amor. Na sua mensagem para o 49º Dia Mundial de Oração pelas Vocações (a ser celebrado dia 29 de abril próximo), o papa Bento XVI escreve que  “...a verdade profunda de nossa existência está contida neste mistério admirável de que, cada criatura, e particularmente cada pessoa humana é fruto de um pensamento e de um ato de amor de Deus, amor imenso, fiel e eterno(cf.Jr 31,3). É a descoberta deste fato que muda, verdadeira e profundamente nossa vida”. O papa prossegue dizendo ainda: Cada vocação nasce da iniciativa de Deus, é dom do amor de Deus! É Ele que realiza o primeiro passo, e não o faz por uma particular bondade que teria vislumbrado em nós, mas em virtude da presença do seu próprio amor ´derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo´”(Rm 5,5).
                Nesta celebração Eucarística vocês estão encerrando este retiro espiritual que vos proporciona o impulso espiritual e a coragem para renovar o desejo de ouvir o chamado, perceber a iniciativa deste Deus de Amor que chama a fazer tudo  no amor e por amor. A vocação total é a vida no amor porque o Amor jamais passara e Deus é Amor. A Palavra de Deus aqui proclamada, nos dá pistas e nos ilumina, para descobrirmos como realizar  nossa vocação ao amor, e em especial nossa vocação ao amor vivido no ministério presbiteral, que vocês desejam abraçar por toda a vida.
                A primeira leitura da Carta de Tiago (cap 2,1-9) começa por mostrar-nos que a fé é fundamental, porém ela só pode existir de verdade em um coração que ama. A pedra de toque da autenticidade da fé é a prática do amor, pois no fim da vida seremos julgados pelo amor que tivermos a Deus, amor a Deus, amado na pessoa do próximo em especial do mais pobre. O amor ao próximo é a “lei régia”, escreve o apóstolo. E aqui é necessário reparar o quanto idealizamos o amor a Deus achando que pode existir sem o amor ao próximo, ou ainda achando que poderemos amar o próximo sem nenhum tipo de renúncia ou sacrifício de nosso ego voraz. Amar o próximo é descobrir a alegria de pensar mais no bem do outro do que no seu próprio bem.  Tendo nos amado, amou até o fim... até dar a vida. Este amor não mata, pelo contrário ele é a morte da morte. Quem não entender isto, e não tiver disposto a praticá-lo não deveria assumir a vocação ao ministério presbiteral, mesmo que sinta o chamado. É melhor dizer um não sincero (como o do jovem rico), que um sim solene, que depois se desmente, e vira não por toda uma vida. “Mas vós desprezais o pobre!” escreve o apóstolo. Isto serve  como questionamento a quem é padre ou deseja sê-lo. Pensemos na angústia que assalta o coração de muitos seminaristas e padres ao pensar que podem ser designados para uma paróquia pobre! Quem aspira uma paróquia pobre? Jesus que ficou trinta anos em Nazaré, encarnou-se na pobreza. A heresia do nestorianismo ensinava que Jesus não sofria como nós, que seu corpo era uma vestimenta uma roupa somente encobrindo o que Ele era de verdade... Jesus não sofreu. O docetismo vai pelo mesmo caminho, desprezando a realidade histórica da encarnação de Jesus, seu sofrimento e morte, para exaltar seu pode e glória somente. É uma tentação sempre presente também em nossos dias.
                O Evangelho proclamado aqui hoje (Mc 8, 27-33), nos faz ouvir a pergunta de Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou?” Dependendo da resposta que dermos a esta pergunta, se decidirá nossa vocação, nosso tipo de seguimento de Jesus e nossa concepção do que é o Amor de Deus que se manifestou em Jesus Cristo, e consequentemente, que tipo de padre você quer ser ou será. Penso que ninguém deveria assumir o ministério sacerdotal se já não tem no coração a resposta a esta pergunta.  Por isso é que Jesus os interroga durante este processo de “formação”. De fato, Jesus parte com os discípulos para longe da Judéia e da Galiléia, para o outro lado do mar da Galiléia. Jesus os leva para fazer um “retiro” com ele. E aqui me parece que, a pergunta fundamental de um retiro para vocacionados ao sacerdócio ministerial deve ser esta mesmo: “quem é Jesus para mim”?. Isto porque tudo passará em nossa vida mas Jesus não passará, porque Ele é a manifestação do amor de Deus, Ele é o próprio Deus Amor: Cristo ontem, hoje e sempre!
                Permitam-me recordar aqui o que escreve o Cardeal François Xavier Nguyen Van Thuan em seu livro Testemunhas da Esperança (Ed. Cidade Nova, S. Paulo, 2007), no qual ele reúne as pregações feitas no Retiro pregado á Cúria Romana em  2000, a convite do Papa João Paulo II. Apenas eleito bispo ele foi preso pelos comunistas que dominavam seu país, o Vietnan (nasceu em 1928 e morreu  em 2002). Atualmente está correndo seu processo de beatificação. Na prisão era sempre questionado por que decidiu seguir Jesus e ele explicava: “Abandonei tudo para seguir Jesus porque amo os defeitos de Jesus” (cf. pp. 28-32).
                “Primeiro defeito:  Jesus não tem boa memória
No alto da cruz, durante a sua agonia, Jesus ouviu a voz do ladrão que estava à sua direita: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres com teu reino” (Lc 23,42). Se fosse eu, ter-lhe-ia respondido: “ Não vou te esquecer, mas os teus crimes devem ser pagos com pelo menos vinte anos de purgatório”. No entanto, Jesus respondeu-lhe: ”... hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Ele esquece todos os pecados daquele homem. Algo semelhante acontece com a pecadora que banha os pés de Jesus com perfume; ele não pergunta nada a respeito de seu passado escandaloso, mas diz simplesmente: “ ... seus numerosos pecados lhe estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor” (Lc7,47). A parábola do filho pródigo conta-nos que ele, no caminho de volta para a casa paterna, prepara-se interiormente sobre o que dizer: “Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados” (Lc 15,18-19). Mas quando o pai o avista de longe, este já havia esquecido de tudo, corre a seu encontro e abraça-o. E, não lhe dando tempo para sua fala, dirige-se aos empregados, que estão desconcertados:
 Ide depressa , e trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejamos, pois este meu filho estava morto e tornou a viver. (Lc 15,22-24). A memória de Jesus não é igual a minha; ele não só perdoa, e perdoa a todos, mas esquece até mesmo que perdoou.
Segundo defeito:  Jesus não “sabe” matemática
Se Jesus tivesse sido submetido a um exame de matemática, talvez teria sido reprovado. É o que demonstra a parábola da ovelha perdida. Um pastor tinha cem ovelhas. Uma delas se perde, e imediatamente ele sai a sua procura, deixando as outras noventa e nove no deserto. Reencontrando-a, coloca a pobrezinha nos ombros e carrega-a (cf. Lc 15,4-7). Para Jesus, uma pessoa tem o mesmo valor de noventa e nove, e talvez mais ainda! Quem aceitaria algo deste tipo? Pois a sua misericórdia se estende de geração em geração... Quando se trata de salvar uma ovelha perdida, risco algum, nenhum esforço faz Jesus se desencorajar. Contemplamos seus gestos cheios de compaixão, ao sentar-se junto ao poço de Jacó para dialogar com a samaritana, ou então, quando se autoconvida para ir à casa de Zaqueu! Que simplicidade a sua, simplicidade que ignora os cálculos humanos; que amor pelos pecadores!
Terceiro defeito:  Jesus desconhece a lógica
Uma mulher tinha dez dracmas e perde uma. Ascende, então, a sua lamparina para procurá-la. Quando a encontra, chama suas vizinhas e lhes diz: “ Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma que havia perdido” (Lc 15,8-10). É realmente ilógico perturbar suas amigas apenas por causa de uma dracma! Depois, promove uma festa para comemorar o ocorrido! E tem mais; ao convidar suas amigas, gasta mais do que uma dracma! Nem mesmo dez dracmas seriam suficientes para cobrir as despesas... Neste caso, podemos realmente repetir as palavras de Pascal: “O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece” (cf Pascal, 1999, n. 277, p. 104). Jesus ao concluir essa parábola, revela a estranha lógica de seu coração: “ Eu vos digo que, do mesmo modo, há alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se arrependa” (Lc 15,10).
Quarto defeito:  Jesus é um aventureiro
Quem cuida da publicidade de uma empresa ou se lança como candidato em algum tipo de eleição, geralmente faz uma programação bem precisa, com muitas promessas. Nada de semelhante acontece com Jesus. A sua propaganda, analisada humanamente, é destinada ao fracasso. Ele promete, a quem o segue, julgamentos e perseguições. Aos seus apóstolos, que deixaram tudo por ele, não garante nem o sustento material nem uma casa para morar; mas apenas partilhar do seu mesmo estilo de vida. A um escriba desejoso de se tornar seu seguidor, responde: “As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos; mas o filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20). O trecho do Evangelho  que trata das bem-aventuranças, verdadeiro auto-retrato de Jesus aventureiro do amor ao Pai e aos irmãos, é um paradoxo do início ao fim, embora estejamos acostumados a escutá-lo: Bem-aventurados os pobres em espírito [...].Bem-aventurados os aflitos [...].Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça [...].Bem-aventurado sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos Céus {...}. (Mt 5,3-12)
Mas os discípulos confiavam naquele aventureiro. Já faz dois mil anos – e vai continuar até o fim dos tempos – que as pessoas continuam seguindo os passos de Jesus. Basta lembrar os santos de todas as épocas. Muitos deles fazem parte daquela abençoada associação de aventureiros. Sem endereço, sem telefone, sem fax...!
Quinto defeito:  Jesus não entende nem de finanças nem de economia
Recordamos aqui a parábola dos operários da vinha. O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para sua vinha.Saindo em seguida às cinco da tarde [...] mandou-os para a sua vinha. Ao final da tarde, pagou um salário a todos eles, começando pelos últimos e terminando com os primeiros. (cf. Mt 20,1-16)
Se Jesus fosse nomeado administrador de uma comunidade ou diretor de uma empresa, essas instituições fracassariam e decretariam falência. Como é possível  alguém pagar o mesmo salário, seja a quem começa a Trabalhar às cinco da tarde, seja a quem começa desde manhã cedo? Trata-se de um descuido? Ou Jesus errou, fez as contas erradas? Não! Ele fez de propósito, porque – explica - : “ Não tenho o direito de fazer o que eu quero com o que é meu? Ou o teu olho é mau porque eu sou bom?” (Mt 20,15).
Mas poderíamos perguntar-nos: por que Jesus tem esses defeitos?
Porque é amor (cf. 1 Jo 4,16). O amor autêntico não é racional, não mede, não ergue barreiras. não calcula, não recorda as ofensas recebidas e não impõe condições. Jesus age sempre por amor. Da convivência da Trindade, ele nos trouxe um amor imenso, infinito, divino, um amor que chega – como afirmam os Santos Padres da Igreja – até a loucura e coloca em crise os nossos padrões humanos.”
               
Pois bem, meus queridos seminaristas. Eu e nossa Igreja que está em Amparo, olhamos para vocês com amor e desejamos que vocês se realizem na vocação à qual vocês se sentem chamados: vocação de seguir Jesus, assumindo na Igreja o ministério ordenado para viver o amor de Cristo no amor aos irmãos e expandir seu Reino. Se a motivação última for somente o amor próprio, (honra, glória, bem estar, realizar belas celebrações, cumprir ritos...), não vale a pena, mas se for por amor tudo vale a pena porque a causa não é pequena.
 O Papa Bento XVI na mesma mensagem a que aludi no início desta reflexão dá algumas pistas para  conseguirmos realizar o ideal: a) familiaridade com a Palavra de Deus, oração comunitária e pessoal devota e constante,  e a Eucaristia, que deve ser o centro vital de todo o caminho vocacional, pois a Eucaristia  é no dizer do papa a expressão perfeita do amor: é nela que aprendemos a viver a “medida alta” do amor de Deus. E conclui o Papa (e eu com ele): “Palavra, Oração e eucaristia constituem o tesouro precioso para se compreender a beleza duma vida totalmente gasta pelo Reino”.

Monte Alegre do Sul, 16 de fevereiro de 2012  

2 de fev. de 2012

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Ser padre no mundo de hoje

Dom Eurico dos Santos Veloso - Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
         O grande Papa João XXIII, em uma de suas alocuções sobre o “Sacerdócio” nos diz que “o sacerdote é, antes de tudo, e sobretudo, “homem de Deus” – “vir Dei”. Assim pensa de vós e vos julga o povo cristão, assim vos quer o Senhor”.
          Ao chamar o sacerdote de homem de Deus, Sua Santidade queria que dele fosse excluído dele tudo o que não é de Deus. Pois bem, numa época hedonista e ateísta em que vivemos, o sacerdote deve, por sua postura e modo de viver, evocar sempre Deus. O sacerdote, através da renovação diária do sacrifício de Cristo, deve, aos poucos, ir conformando sua mente, seus atos, seu modo de tratar as pessoas, ao modo de viver e pensar do próprio Cristo. O Divino Mestre seja seu único amigo e consolador, quer na vigília junto ao sacrário, quer no estudo das Sagradas Escrituras, quer no cuidado dos pobres e doentes ou no ministério da pregação.
          Ao se falar sobre o sacerdote, não posso deixar de me lembrar da pessoa do Santo Cura d’Ars, proposto por São Pio X como modelo de pároco, em cuja vida deve se espelhar todo verdadeiro sacerdote, ainda mais agora que o Papa Bento XVI propõe a figura do ilustre e santo sacerdote como patrono de todo o clero.
          E o Papa João XXIII, continuando em sua já citada alocução, assim se refere ao Cura d’Ars: “Falar de São João Batista Vianey é evocar a figura de um sacerdote excepcionalmente mortificado que, por amor de Deus e pela conversão dos pecadores, privava-se de alimento e sono, impunha-se penitências e, sobretudo, levava a renúncia de si mesmo a um grau heróico. Se é certo que comumente não é pedido a todos os fiéis que sigam este caminho, a Divina Providência dispôs que nunca faltem almas, que, levados pelo Espírito Santo, não hesitem em caminhar-se por estas vias, porque tais homens operam com este exemplo o regresso de muitos, milagres de conversão ao bom caminho e à prática da vida cristã!”
          Não vejo outro caminho a ser trilhado pelo sacerdote, a não ser ir copiando em sua vida todos os traços de Jesus Cristo, Sumo Sacerdote, que outra coisa não fez em sua vida, do que plantar nos corações o Deus vivo, seu e nosso Pai.
          Hoje, os sacerdotes são chamados a muitas atividades salutares no cumprimento da missão evangelizadora da Igreja em nossa época. Entretanto, a missão do sacerdote no mundo de hoje, sua razão de ser – em minha visão, é que ele seja sempre e em tudo, apesar de tudo, um homem de Deus, quer pela oração, quer pela vivência do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, quer pelo anúncio da Boa-nova, missão recebida do próprio Senhor: “Foi-me dado todo poder no céu e na terra. Ide, pois, ensinai a todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar o que vos mandei. E eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28, 19-20).
          O Papa Bento XVI, no Ângelus do último dia 26 de julho, afirmou com propriedade que o sacerdote é instrumento de salvação e se entrega a Deus: “Neste Ano Sacerdotal, recordamos que especialmente nós, os sacerdotes, podemos nos ver neste texto de João, tomando o lugar dos apóstolos, quando dizem: ‘Onde poderemos encontrar pão para toda esta gente?’ Lendo sobre aquele anônimo jovem (Jo 6) que tem cinco pães de cevada e dois peixes, também a nós vem espontâneo dizer: mas o que é isso para uma tal multidão? Em outras palavras: quem sou eu? Como posso, com os meus limites, ajudar Jesus na sua missão? E a resposta nos dá o Senhor: precisamente colocando em suas mãos ‘santas e veneráveis’ o pouco que Eles são, os sacerdotes tornam-se assim instrumentos de salvação para tantos, para todos!”
          Por isso, ao saudar os padres da Arquidiocese de Juiz de Fora e da Diocese de Luz, Igrejas que servi com devotamento, quero saudá-los e animá-los a viver autenticamente o ministério ordenado, sempre solidários aos anseios do povo santo de Deus e iluminados pela sedução em sempre servir a todos com alegria e com devotamento.
          Que São João Maria Vianney abençoe os nossos presbíteros. Assim rezo e assim convido a todos a rezarem!
Fonte: Zenit

1 de fev. de 2012

A consagração, instrumento da nova evangelização
Vem e segue-me: lema da Jornada Mundial da Vida Consagrada
         MADRI, segunda-feira, 30 de janeiro de 2012 (ZENIT.org) .- No próximo dia 2 de fevereiro, festa da Apresentação de Jesus no templo, a Igreja reza e dá graças por aqueles que dedicam toda a sua vida para o serviço do Reino. Desde 1997, por iniciativa do Beato João Paulo II, celebra-se nesse dia a Jornada Mundial da Vida Consagrada.
          "Nesse dia olhamos para a vida consagrada e para cada um dos seus membros como um dom de Deus à Igreja e à humanidade", disse na apresentação da Jornada monsenhor Vicente Jiménez Zamora, Bispo de Santander e presidente da Comissão Episcopal para a Vida Consagrada.
"Juntos - acrescenta - agradecemos a Deus pelas Ordens e Institutos religiosos dedicados à contemplação ou ao apostolado, pelas Sociedades de Vida Apostólica, pelos Institutos Seculares, pela Ordem das Virgens, pelas novas formas de Vida Consagrada ".
               O lema escolhido para este ano é: "Vem e segue-me" (Mc 10, 21). O bispo lembra que esta Jornada acontece depois da celebração da Jornada Mundial da Juventude em Madri e no horizonte do próximo Sínodo dos Bispos sobre o tema: a nova evangelização para a transmissão da fé cristã (Roma, 7-28 de outubro de 2012).
"A nova evangelização, à qual a Igreja nos convida - diz ele - é primeiramente um desafio espiritual para sair da indiferença. Depende em grande medida da credibilidade da nossa vida e da convicção de que a graça de Deus trabalha e transforma até converter os corações. A nova evangelização pede novos evangelizadores. "
          "As pessoas consagradas são chamadas pela sua vocação - acrescenta Dom Jiménez Zamora - consagração e missão de viver um estilo de vida, que requer, em primeiro lugar, a santidade de vida à qual toda a Igreja está chamada. Este estilo se manifesta visivelmente nos conselhos evangélicos vividos em comunidade. Através deles se manifesta a radicalidade e a novidade do seguimento de Jesus Cristo. A consagração é, assim, instrumento de nova evangelização".
           Lembra as palavras do Beato João Paulo II, na exortação apostólica Vita Consecrata: "As pessoas consagradas, em virtude de sua vocação específica, são chamadas a manifestar a unidade entre autoevangelização e testemunho, entre renovação interior e apostólica, entre ser e atuar, destacando que o dinamismo surge sempre do primeiro elemento do binômio."
              E concluiu com uma citação do Papa Bento XVI que, no Encontro com jovens religiosas, na Jornada Mundial da Juventude, ao falar sobre a natureza radical da vida consagrada, dizia: "Queridas irmãs, este é o testemunho da santidade para a qual Deus vos chama, seguindo muito de perto e sem condições a Jesus Cristo na consagração, comunhão e missão. A Igreja precisa da vossa fidelidade jovem enraizada e edificada em Cristo. Obrigado pelo vosso "sim" generoso, total e perpétuo ao chamado do Amado. Que a Virgem Maria sustente e acompanhe vossa juventude consagrada, com o vivo desejo de que interpele, incentive e ilumine a todos os jovens”.
[Tradução Thácio Siqueira]
Fonte: Zenit - acesso em 01/02/2012
Freiras de clausura rezam pela Igreja na China
Iniciativa envolve cerca de 530 conventos de clausura da Itália
            ROMA, segunda-feira, 30 de janeiro de 2012 (ZENIT.org) - As notícias sobre a situação da Igreja na China são preocupantes. Os padres Angelo Lazzarotto e Piero Gheddo, missionários do Pontifício Instituto de Missões Exteriores (o Pime, que está presente no "Império do Meio" desde 1858), tiveram a iniciativa de envolver cerca de 530 conventos de clausura da Itália em uma campanha de orações: eles enviaram a cada convento o livro A Life in China (EMI 2011), que reúne as cartas do padre mártir Cesare Mencattini (1910-1941) comentadas pelo padre Lazzarotto, juntamente com duas cartas para as freiras explicando o porquê desta iniciativa.
           A Igreja na China "é hoje uma bela esperança para a Igreja universal e, especialmente, para a missão na Ásia, o continente em que vivem de 80 a 82% dos não-cristãos de todo o mundo", mas que "atravessa o momento mais difícil e decisivo da sua história recente, correndo até o perigo de cair num cisma, palavra que lembra outros momentos dramáticos e tristes na história milenar da Igreja de Cristo", escreve o pe. Gheddo, que, há mais de trinta anos, manda para conventos femininos de clausura os seus livros sobre as missões e sobre o trabalho do Pime.
           O pe. Angelo Lazzarotto, que já foi missionário em Hong Kong e é um profundo conhecedor da Igreja na China, graças às dezenas de viagens que fez ao país, falou brevemente, em declarações veiculadas pela Asia News, sobre a crise "desencadeada em 20 de novembro de 2010, quando as autoridades comunistas decidiram impor uma ordenação de bispos na cidade de Chengde, província de Hebei, sem o consentimento do Papa". "No verão de 2011, o governo impôs outras duas ordenações episcopais, uma no dia 29 de junho, em Leshan, na província de Sichuan, e a outra em 14 de julho, em Shantou, na província de Cantão, apesar de ter sido informado das razões pelas quais o papa não poderia dar a sua aprovação. Assim, a Santa Sé teve que declarar que os dois padres que concordaram em ser ordenados bispos contra as leis da Igreja tinham incorrido em excomunhão automática. A China protestou".
            "Infelizmente, o governo comunista não hesita em usar nem bajulação nem da violência física para atingir os seus objetivos. No ano passado, eles chegaram a mandar a polícia para forçar vários bispos a participarem da assembleia de dezembro de 2010 e também das ordenações episcopais. O governo criou para isto a Associação Patriótica Católica, que acaba marginalizando os bispos. Esse uso absurdo da força para impor determinadas opções religiosas desonra o prestígio da Nova China no mundo".
Vários observadores e estudiosos dizem que há facções de extrema-esquerda que estão tentando assumir o comando na máquina administrativa chinesa. Aliás, um importante congresso do Partido Comunista está sendo preparado para renovar a cúpula do poder.
             Quanto às perspectivas para a Igreja na China, "há necessidade, é claro, dos novos bispos", prossegue o padre. "Mas a Igreja no país está em emergência, porque faz 30 anos, com o fechamento de todos os seminários, que nenhum padre é ordenado. Hoje, os possíveis candidatos para o episcopado têm de 35 a 40 anos de idade. Falta experiência. Então, enquanto muitos bispos e outros delegados tentaram de todas as maneiras recusar a participação nos eventos mencionados acima, outros não foram capazes de resistir. É difícil saber até que ponto eles aceitaram de forma voluntária, porque muitas vezes a preocupação deles é garantir o funcionamento das infra-estruturas essenciais para a vida da Igreja, considerando que o controle das finanças diocesanas está nas mãos dos membros da Associação Patriótica. É sabido que muito dinheiro flui através da Associação para um crescente número de dioceses, paróquias e seminários. Por isso, quem não coopera com o governo acaba pagando um enorme custo financeiro. E, como sempre, aceitar o dinheiro significa perder independência".
               Neste contexto, "as diversas tentativas do passado para se chegar a um entendimento com as autoridades comunistas na China falharam, por causa da sabotagem das forças interessadas em manter o estado de conflito. Mas Bento XVI, como os seus antecessores, nunca perde uma oportunidade de expressar a sua confiança na Igreja presente na China, bem como a alta estima que ele tem pelo povo chinês e o seu respeito pelo governo que o guia". E "as autoridades de Pequim não ignoram o prestígio considerável da figura do Papa em âmbito internacional, e por isso repetem que elas também estão disponíveis para melhorar as relações com o Vaticano".
               "Um diálogo construtivo precisa ser fomentado, na minha opinião, no campo prático. As comunidades católicas querem trabalhar pela paz social e fazer os seus esforços para o bem comum. Mas tem que ser assegurado que a Igreja possa operar de acordo com as suas tradições. Na escolha dos candidatos ao episcopado, é essencial que sejam sacerdotes adequados, em termos de requisitos pessoais e eclesiásticos. Não podemos aceitar que entidades impostas pelo Estado e estranhas à estrutura da Igreja se coloquem acima dos bispos na liderança da comunidade da Igreja. Isto foi dito claramente pelo papa Bento XVI".
                Para que se consiga chegar a um acordo válido e duradouro, o pe. Lazzarotto considera que "é preciso acontecer um verdadeiro milagre. Precisamos de uma cruzada de oração, sabendo que nada é impossível para Deus. O papa Bento XVI tem feito apelos reiterados aos católicos de todo o mundo para se juntarem à invocação dos irmãos e das irmãs da República Popular da China. Eles têm uma grande fé na Virgem Maria, que é venerada em muitos santuários, especialmente em Sheshan (perto de Xangai), onde ela é invocada como Auxílio dos Cristãos. O papa convida os católicos a pedirem a intercessão de Maria para "iluminar todos os que estão em dúvida, reconvocar os que se desviaram, consolar os que sofrem e dar força para aqueles que são atraídos pela sedução do oportunismo".
Pe. Piero Gheddo

Fonte: Zenit - acesso em 01/02/2012