4 de fev. de 2011

Espiritualidade

 Escrito pelo Seminarista Gustavo Miranda - 1º Teologia

  “ Nisto sabemos o que é o amor: Jesus deu a vida por nós. Portanto, também nós devemos dar a   vida pelos irmãos”     I Jo 3,16

“Compreendi que o Amor englobava todas as vocações, que o Amor era tudo...”(Santa Terezinha). Quando falamos sobre vocação logo imaginamos que este chamado é um status, algo que irá engrandecer esta pessoa, ilusório. Corresponder à vocação seja ela matrimonial, religiosa ou sacerdotal, é uma atitude de amor. De amor a Deus que nos chama, amor ao Reino e amor ao povo ao qual Deus mesmo nos confia.
 Dentro da vocação matrimonial o amor se faz presente não somente entre o casal, mas este amor vai além, pois como leigos também são chamados a serem construtores do Reino, tornando-se discípulos e missionários como muito bem nos lembra o Documento de Aparecida “Os leigos também são chamados a participar na ação pastoral da Igreja, primeiro com o testemunho de vida e, em segundo lugar, com ações no campo da evangelização, da vida litúrgica e outras formas de apostolado, segundo as necessidades locais, sob a guia de seus pastores. Estes estarão dispostos a abrir para eles espaços de participação e confiar-lhes ministérios e responsabilidades em uma Igreja, onde todos vivam de maneira responsável, seu compromisso cristão. Aos catequistas, ministros da Palavra e animadores de comunidades que cumprem magnífica tarefa dentro da Igreja, os reconhecemos e animamos a continuarem o compromisso que adquiriram no Batismo e na Confirmação”.
Os religiosos e os sacerdotes também correspondem a esse amor nos seus diversos carismas e funções dentro da dinâmica pastoral da Igreja. Esses, muitas vezes, levam o conforto de Deus a muitos lugares, locais que muitas vezes são esquecidos até mesmo pelas autoridades responsáveis. Porém, corresponder ao chamado de Deus não é se tornar uma pessoa útil, utilidade esta que nos dias atuais envolve nossa sociedade. Uma pessoa enferma ou idosa pode corresponder do mesmo modo à sua vocação. Neste sentido, em uma homilia, nosso bispo Dom Pedro Carlos nos recorda que “A uns Deus santifica pela grandeza de seus dons, virtudes e grandes feitos, a outros, Deus santifica através de suas fragilidades, suas dificuldades. Quantas vezes a santidade é muito mais uma descida que uma subida? Uma descida ao labirinto de nossas contingências humanas. Mas no final, se perseverarmos na fé, dia após dia, deveremos exclamar: tudo é graça! Jesus associa-nos à sua paixão não somente através dos dons místicos, mas também através de nossas fragilidades, tanto físicas como psíquicas. Nunca sabemos que tipo de coroa o Senhor nos coloca  na fronte, pode ser a de espinhos. É preciso então ter a coragem de assumir a própria fraqueza, a coragem de assumir os próprios limites e dúvidas, enfim, assumir a condição humana como meio de nossa santificação. S. Paulo, ao atingir a humildade como  o último degrau da sabedoria, escreve nesta perspectiva: “Por isto, eu me comprazo nas fraquezas, nos opróbrios, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte (2Cor 12,10)”.
Há ainda dentro da dinâmica da vida religiosa uma vertente que contradiz toda questão do utilitarismo de nossa sociedade. A vida contemplativa dentro das clausuras ou dos mosteiros contradiz este sentido utilitarista que a sociedade muitas vezes olha sobre um sacerdote, uma religiosa ou religioso. Na construção do Reino, Reino este que é escatológico, não é necessário um sacerdote se tornar um coordenador de bairro ou uma religiosa uma revolucionária, mas antes de mais nada é necessário que ao corresponder a nossa vocação ela se torne uma pessoa de oração. Neste sentido o futuro beato João Paulo II em sua exortação Apostólica Pós-sinodal Pastores Dabo Vobis nos fala: “A própria vida dos padres, a sua dedicação incondicional ao rebanho de Deus, o seu testemunho de amoroso serviço ao Senhor e à sua Igreja – testemunho assinalado pela opção da cruz acolhida na esperança e na alegria pascal –, a sua concórdia fraterna e o seu zelo pela evangelização do mundo são o primeiro e mais persuasivo fator de fecundidade vocacional”
Quando olhamos uma catedral nunca imaginamos que por detrás de suas belas pinturas há um alicerce, uma estrutura que a deixa em pé. Esta “estrutura” dentro da Igreja é feita por pessoas que muitas vezes passam despercebidas diante de nossos olhos. Essas pessoas muitas vezes são doentes que em seus leitos de dor oferecem todos seus sofrimentos pela santificação do clero ou pela salvação das almas, ou ainda, Irmãs religiosas que oferecem toda sua vida vivendo dentro das clausuras em suas vidas de profunda contemplação. Nosso Papa Bento XVI nos recorda que “Os mosteiros de vida contemplativa, aparentemente inúteis são, ao contrário, como os “pulmões” verdes de uma cidade” .
Ao falar de vocação, sempre surge uma pergunta: como descobrir minha vocação? O Senhor não manda carta, nem e-mail, nos falando qual é nossa vocação. Descobrimos nossa vocação através de nossa vida de oração, ou do um testemunho de algum padre ou lendo a vida de algum santo. Deus tem suas maneiras de nos mostrar sua vontade. Perante a vocação sacerdotal nos lembra o Santo Padre Bento XVI em sua mensagem para o 47º dia mundial de oração pelas vocações: Elemento fundamental e reconhecível de toda vocação ao sacerdócio e à consagração é a amizade com Cristo. Jesus vivia em constante união com o Pai, e é isto que suscitava nos discípulos o desejo de viver a mesma experiência, aprendendo com Ele a comunhão e o diálogo incessante com Deus. Se o sacerdote é o “homem de Deus”, que pertence a Deus e ajuda a torná-lo conhecido e ser amado, não pode deixar de cultivar uma profunda intimidade com Ele, permanecer no seu amor, escutando sua Palavra. A oração é o primeiro testemunho que suscita vocações. Como o apóstolo André, que comunica ao irmão ter conhecido o Mestre, igualmente quem deseja ser discípulo e testemunha de Cristo deve tê-lo “visto” pessoalmente, deve tê-lo conhecido, deve ter aprendido a amá-lo e a estar com Ele”.
Neste sentido  fica claro a importância da oração perante a nossa vocação. Nossa resposta vocacional não é constituída por apenas um sim, nossa resposta vocacional engloba dizer vários “sim” à vontade de Deus. Pois esta resposta é constante e diária. A vida de oração nos leva à perseverança, perseverança esta que nos coloca a caminhar solidamente sobre as alegrias e tristezas de nossas vidas. Perseverar é mostrar para o mundo o quanto é bom estar inserido e colaborando na construção do Reino. Sendo assim o Papa João Paulo II em sua exortação Apostólica Pós-sinodal Pastores Dabo Vobis nos lembra que: “No seguimento de Jesus, todo chamado à vida de especial consagração deve esforçar-se para testemunhar o dom total de si a Deus. Em seguida, nasce a capacidade de doação aos que a Providência lhe confia no ministério pastoral, com dedicação plena, contínua e fiel, e com a alegria de se tornar companheiro de viagem de tantos irmãos, para que se abram ao encontro com Cristo e sua Palavra torne-se luz para o seu caminho. A história de toda vocação está interligada, quase sempre, com o testemunho de um sacerdote que vive com alegria o dom de si mesmo aos irmãos pelo Reino dos Céus. Isto porque a proximidade e a palavra de um padre são capazes de fazer despertar interrogações e de conduzir mesmo à decisões definitivas”.
“Ó Jesus, meu Amor... minha vocação, enfim, eu a encontrei, minha vocação é o Amor!”(Santa Terezinha). Amor este que nos coloca verdadeiramente diante das necessidades daqueles que mais precisam, dos mais miseráveis dos miseráveis, assim nos lembra São Gaspar Bertoni: “Devemos desacostumar-nos de fazer a nossa própria vontade e tudo realizar como que movidos pela vontade de Deus, a fim de agradar-lhe e honrá-lo”. Este amor serviço e não sentimentalista nos leva a sermos sinais de misericórdia em um mundo que deixou perder o sentido do serviço ao próximo e a construção do Reino de Deus. Sendo assim ao corresponder nossa vocação precisamos dizer as mesmas palavras de São Genésio ao ser torturado : “Outro Senhor não há no mundo, a não ser Jesus Cristo. A Ele adoro e quero servir, por ele quero morrer mil vezes. Não há martírio que possa arrancar do meu coração o amor a Jesus Cristo”.

Foto . Arquivo pessoal

Nenhum comentário:

Postar um comentário